A difícil arte de gerenciar o tempo e definir prioridades quando tudo é urgente

Francisco Guarisa*

É senso comum que tudo hoje se tornou urgente. Com o início da pandemia e a intensificação do home office, associadas à comodidade e conveniência, surgiu também a percepção de que todas as demandas precisam ser resolvidas rapidamente, pois tudo acontece praticamente em tempo real. Até aí, tudo bem.

Porém, a rapidez passou a ser acompanhada da falta de administração do tempo e a urgência a dominar o dia a dia da maioria dos cidadãos, seja em nível pessoal ou profissional. O que não falta é atividade. São os e-mails que se multiplicam na velocidade da luz, as redes sociais com intermináveis publicações de amigos e empresas, as reuniões e relatórios excessivamente frequentes, as avalanches de notícias (sensacionalistas ou não), os cuidados com a casa (e/ou filhos), o pagamento de impostos, entre outras. Um sem-número de coisas urgentes para fazer e para nos distrair.

Invariavelmente, urgência nos remete à aceleração, pressa, velocidade e nos dá a sensação de que tudo é para ontem. Apesar desta percepção de que precisamos realizar a tarefa rapidamente, isso não significa que o mais rápido é o melhor. Por definição, o conceito de “senso” está associado à racionalização, discernimento, austeridade e, teoricamente, deveria sinalizar uma prudência na definição de prioridades e na gestão da urgência. Infelizmente, na prática, percebo que não é isso que ocorre. Como definir prioridades quando tudo parece urgente?

De acordo com John Kotter, professor da Harvard Business School e expert em Liderança e Mudança, é fundamental estabelecermos nossas atividades diárias sempre com um senso de urgência, porém classificando-as quanto à importância antes de iniciá-las. Ou seja, não custa ser um pouco mais estratégico do que operacional. Estabelecer prioridades pode parecer uma atitude óbvia, mas não pensar nisso pode levar a uma série de ações improdutivas e sem a devida importância. Criar um senso de urgência disciplinado, produtivo e organizado, pode nos ajudar a definir planos e prazos, a minimizar riscos e, consequentemente, a realizar tudo o que projetamos para nossa vida pessoal ou profissional. Afinal, não podemos perder um dos bens mais valiosos que temos: o tempo. O tempo é um recurso não renovável e saber administrá-lo é um grande desafio diário. Ele é escasso e não permite reposição.

No mundo dos negócios, administração do tempo e senso de urgência são expressões comuns para quem quer se manter competitivo e se adaptar às mudanças. Há aproximadamente duas décadas, um importante movimento vem ocorrendo por parte de diversas empresas, no sentido de administrarem seus negócios de forma mais ágil e integrada. Desde então, surgiram diversas metodologias e métodos, que valorizam o senso de urgência, produtivo e organizado, no gerenciamento de projetos, equipes e demandas. Todas eles com o objetivo de tornar as organizações mais ágeis para atenderem às suas expectativas, tanto de processos como de pessoas. São ferramentas que oferecem um alto grau de adaptabilidade às mudanças, minimizam o retrabalho, ampliam o envolvimento de equipes multidisciplinares, gerenciam processos estimulando o exercício à criatividade e inovação, além de avaliarem permanentemente objetivos e metas, entre outros atributos. Kanban, OKRs, Scrum e Squads são alguns exemplos dessas metodologias.

Contudo, nada disso adiantará se dentro das empresas e de nós mesmos não existir um propósito estabelecido. Quem possui um propósito claro e objetivo para nortear e motivar suas ações e decisões, provavelmente conseguirá selecionar o que realmente é importante e não deixará que seja contaminado por demandas comumente ditas urgentes. Tenha em mente que urgente não é sinônimo de imediatamente. Saiba gerenciar positivamente o seu tempo e não invente culpas nem desculpas.

O resultado será mais tempo para você se dedicar ao que realmente importa. Afinal, é preciso saber viver e viver é para ontem!

 

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão