Candelária nunca mais!

Por Elika Takimoto*

Na madrugada de 23 de julho de 1993, em frente à Igreja da Candelária, policiais abriram fogo contra um grupo de cerca de 70 pessoas que dormiam nas proximidades da Igreja. Era a Chacina da Candelária, quando oito jovens foram barbaramente executados no centro do RJ. A Chacina causou comoção nacional. Grupos de extermínio de crianças em situação de rua já haviam surgido em outros cantos da cidade, mas era a primeira vez que essa brutalidade nua e crua acontecia bem no centro do Rio.

28 anos depois, a violência segue atingindo meninos e meninas pobres. Parece pior, já que agora até mesmo dentro de casa são vítimas das balas, como no caso de João Pedro, 14 anos, morto por policiais dentro de sua casa no Salgueiro, em São Gonçalo. A escola já não resiste também. Maria Eduarda perdeu sua vida também aos 14 dentro da sua escola, durante operação policial na Favela de Acari.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, somente em 2019, 4971 crianças e adolescentes morreram de forma violenta no Brasil. Isso equivale a 621 chacinas da Candelária em apenas um ano. Isso não pode ser considerado normal.

Quantas vezes passamos pela Igreja da Candelária? Quantas vezes lembramos que ali, na porta da Igreja, enquanto dormiam, 8 meninos foram assassinados? A Chacina da Candelária é uma página dolorosa da história do Brasil, que falhou em proteger crianças que dormiam serenas, tentando se proteger do frio, aos pés da casa de Deus, que é como muitos consideram as igrejas.

E para que nunca mais se esqueça, para que nunca mais aconteça, é preciso sempre estar atento e forte e lembrar a memória desses 8 meninos. Estenda a mão a uma criança em situação de rua, ouça o que ela tem a dizer, pergunte se ainda consegue frequentar a escola, a sua idade, e seu nome. Essas crianças têm nome.

Não espere acontecer como na Candelária, onde 28 anos depois, não sabemos nem o nome de um dos meninos assassinados. Gambazinho, como era chamado, tinha 17 anos. Evitar outras Candelárias é um dever de todas nós. Caminhar para dar dignidade a uma criança em situação de rua pode ser mais simples do que você imagina.
Escute, olhe, pergunte, apoie.

Lembre-se que toda criança é no fundo, somente uma criança.

*Professora e escritora