A ultrapassada urna eletrônica

Cássio Nogueira de Castro*

O retorno do voto impresso no Brasil está na pauta de discussões gerando conflitos, sejam ideológicos ou oportunistas. Deveríamos olhar o horizonte, pensando num futuro, além das urnas eletrônicas, que já se tornaram velhas e obsoletas.

Fomentar o uso de papel é ir na contra mão da sustentabilidade e da evolução tecnológica. Vale lembrar, que estamos vivendo a quarta revolução industrial. A humanidade está sendo transportada por uma revolução tecnológica, sendo conduzida para um mundo cada vez mais digital, impactando e transformando nos detalhes a rotina das pessoas comuns.

A pandemia acelerou este processo com o home-office, e nos lançou nos trilhos do mundo totalmente digital e tecnológico.

No enfrentamento da crise mundial do coronavírus a tecnologia se mostrou imprescindível. Exigindo do governo a capacidade de formulação e implementação de políticas públicas por intermédio da tecnologia para garantir a milhares de brasileiros o pagamento do auxílio emergencial, cadastrando os beneficiários através de um aplicativo que contabilizou números estratosféricos de download.

No mundo de hoje, caracterizado pelo ritmo acelerado das inovações e pelo furacão da internet 5G, dominado pelo PIX, meio de pagamento instantâneo, criptomoeda, big data, blockchain, inteligência artificial, cloud computing, em que as instituições de ensino incrementam o protagonismo das ferramentas digitais no ensino e sua importância no cotidiano das pessoas. Quebrar paradigmas em busca de um novo rumo para alcançar um Brasil mais inclusivo e menos desigual faz parte do pacote da inovação e transformação digital. O desafio é gigante para implementar uma reforma no sufrágio eleitoral devido aos fantasmas de fraudes que marcaram a ferro em brasa o histórico das eleições brasileiras, e assombram qualquer mínima possibilidade de movimento inovador no processo de votação.

Essa sombra de fraude eleitoral que paira sobre as discussões de tendências que afetarão o dia a dia das pessoas num futuro breve cria um estado de terror que limita o sucesso e ofusca a visão. Resistir aos avanços tecnológicos, só fortalece o engessamento das formas ou até mesmo sugere o retrocesso do processo eleitoral. Preso a metodologias utilizadas que um dia já foram consideradas confiáveis na verificação do resultado de eleições.

A visão que prevalece é que dependemos da tecnologia para sobreviver. Não é uma opção. Goste ou não, a tecnologia é o caminho a ser seguido. Neste cenário, o digital deixou de ser privilégio das elites. Pertencer ao mundo digital é equiparado a um direito fundamental.

A envelhecida urna eletrônica ficou ultrapassada, atrelar a ela o impresso, mesmo que por amostragem é um passo para trás. O Brasil que fez a inclusão digital de 45 milhões de brasileiros, invisíveis no digital, deveria agora discutir o voto pelo celular, não presencial, e resolver a questão da abstenção que muitas vezes forma o maior contingente de eleitores. Assim como o Brasil foi inovador há 25 anos, com o voto eletrônico, chegou a hora de mais uma vez inovar com o voto não presencial. A democracia se consolida com a inclusão em massa e das massas, principalmente a eleitoral.


*Advogado e Adesguiano