Uma história diferente

Por Desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira*

As lideranças representantes dos Três Poderes devem sempre manter um olhar mais expansivo sobre a nossa sociedade. Não podemos ficar cegos em relação às dificuldades do nosso povo; precisamos ter consciência de suas principais necessidades relacionadas no texto constitucional, saúde, educação, emprego, moradia e transporte. São direitos essenciais ao pleno exercício da cidadania.

Por isso o Estado do Rio de Janeiro necessita de gestão uníssona com projetos e ações que promovam desenvolvimento de forma organizada para vencer o mau tempo em que estamos vivendo. Nosso Estado, infelizmente, sofreu várias agressões: foi subtraído, foi abandonado, foi constrangido e, com a pandemia, as dificuldades aumentaram.

Contamos com mais de um milhão de desempregados, centenas de adolescentes internados por praticarem atos infracionais e milhares de moradores de rua. São números cruéis sob a ótica social que demonstram o resultado de traumáticas gestões. Para reverter esse quadro, os Três Poderes, respeitando reciprocamente as diretrizes e área de atuação dos demais, unidos, poderão construir uma história diferente.

Cada vez mais, Judiciário, Executivo e Legislativo precisam unir forças e lutar contra a desesperança na sociedade, principalmente com a explicitação das diferenças sociais e perda de oportunidades que aumentaram com a pandemia. Precisamos pensar juntos e, mais que isso, agir juntos.


A pandemia recomenda a todos o isolamento social e excesso de cuidados para evitar a disseminação do contágio. Mas os administradores públicos, estes devem assumir a vanguarda do trabalho e produzir soluções eficazes ao combate das mazelas que assolam o estado. Não podemos ficar confinados em salas sem portas. Temos que abrir o caminho. A união é fundamental para que possamos virar o jogo.

Quero abrir o Judiciário para questões sociais. Hoje, atuamos em várias frentes com projetos como: Começar de Novo, Justiça pelos Jovens, Pais trabalhando, Jovens Mensageiros, entre diversos outros. Entretanto, se não tivermos a participação de todos, será como jogar num campo sozinho contra 11 adversários no campo oposto.

Outro exemplo de boa prática do Tribunal de Justiça do Rio nesse sentido foram os esforços para efetivar a maior cota de jovens aprendizes do país - 918 vagas oferecidas em abril deste ano pela Comlurb. Do grupo, 100 jovens já foram inseridos no mercado de trabalho como jovens aprendizes após concluírem cursos de profissionalização no Senai nas áreas de instalador hidráulico, padeiro e confeiteiro. Em breve, será a vez de jovens que estão cumprindo medidas socioeducativas de internação se engajarem nesses cursos profissionalizantes.

Fundamental a entrada dos Poderes em cena de forma coesa, a fim de provocar iniciativas que tragam desenvolvimento, interagindo com vários setores. O pacto entre os Poderes não deve ficar somente no papel. O cidadão precisa sentir que tem um sistema seguro, com capacidade operacional maior e melhor. O atual cenário para a retomada de geração de emprego mostra, ainda, que ela será lenta e que, se continuarmos a ignorar esses fatos, estaremos cada dia mais expostos às perdas de um Estado que tem tudo para crescer.

A liberdade, a democracia, a autonomia e a independência dos Três Poderes não estão em questão. Precisamos unir forças para planejar ações efetivas em prol do corpo social, sem esperar o tempo passar, pois não é razoável agir somente quando formos demandados.

Podemos criar e pensar juntos. Temos vários pontos a nosso favor, como a tecnologia e a comunicação. Qualificar os jovens que estão ávidos por profissionalização no âmbito da tecnologia e por oportunidades, além de nos aproximar cada vez mais da sociedade, é uma forma de saber entender o que podemos e devemos fazer.

* Desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira é presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ).