A impotência diante do monopólio nas redes sociais

Francisco Guarisa*

A pane global recente, provocada pelo WhatsApp, Facebook e Instagram, tornou evidente como somos dependentes dessas três plataformas e como isso se potencializou após o início da pandemia do coronavírus. Nesse período, pessoas e empresas entenderam o potencial dessas ferramentas e intensificaram seus relacionamentos, com o objetivo de minimizar os efeitos socioeconômicos provocados por essa adversidade. Se por um lado, as redes sociais aproximam as relações, por outro deixam latente a nossa dependência por essas “Big Techs”, pelo domínio desses aplicativos e seus perigos pelo poder que hoje exercem em múltiplos níveis, tanto para os negócios como para a sociedade em geral.

Tal fato se torna ainda mais preocupante ao constatarmos que o Brasil é o terceiro em uso de redes sociais no mundo, com uma média de 3h42min por dia, perdendo somente para Filipinas e Colômbia. Essas informações fazem parte de estudo de 2020 de uma plataforma que reuniu dados da Hootsuite e WeAreSocial, sobre o uso das redes sociais no país e no mundo. Além disso, para ampliar a preocupação, o Brasil é considerado o país mais influenciado por redes sociais. De acordo com dados do final de 2020 da empresa americana de análises na internet, ComScore, a penetração de conteúdos entre os usuários únicos dessas redes no país atinge um patamar de 97%, ultrapassando China, Índia e EUA. É importante destacar que o Youtube é a rede social mais utilizada pelos brasileiros, aliado ao fato de que para o Brasil o WhatsApp e o Instagram representam a segunda e terceira posição global, respectivamente. Por fim, o Facebook ocupa a quarta posição global.

Essas informações dão a dimensão do quão importante as redes sociais são para os brasileiros e como elas exercem uma enorme influência nos mais variados níveis e segmentos. Por outro lado, também podem demonstrar um certo comodismo da população em concentrar sua forma de comunicação somente nessas três plataformas, que não custa lembrar são de um mesmo dono. Nesse caso, os riscos são enormes e precisamos minimizá-los. É importante destacar que a internet é muito mais do que esses três aplicativos é o momento de agirmos em busca de uma maior diversificação dos canais de comunicação, assim como a sociedade exercer uma pressão sobre os governos na busca por uma regulamentação dessas “BigTechs”, no sentido de minimizar os riscos de mais fusões e aquisições de empresas no setor, que possam ampliar algum tipo de monopólio.

Enquanto isso não ocorre, vamos seguindo dominados pelos algoritmos, sem o devido livre arbítrio nessas redes, permanentemente conduzidos e controlados, regidos por likes, deslikes e troca massificada de conteúdos irrelevantes, sem garantias de testagens e/ou veracidade. Um universo paralelo de urgências injustificadas e verdades relativas.

Porém, até que a sociedade civil se conscientize dos cuidados necessários para uma boa convivência nas redes sociais e os governos consigam gerar controles mais eficientes e eficazes, teremos que conviver com os abusos frequentes cometidos tanto pelos “gigantes das redes sociais” como pelos que disseminam falsas informações. De qualquer maneira, precisamos ser mais seletivos e cuidadosos, sem radicalismos na forma com que nos relacionamos nesse universo conectado.

Confesso que não acredito em qualquer modelo radical, onde, por exemplo, encerrar uma conta e se desligar das redes sejam a melhor solução. Como opção de curto prazo, podemos simplesmente refletir profundamente sobre o tema e reavaliar a intensidade com que utilizamos esses aplicativos e entender até que ponto precisamos estar ligados a maior parte do tempo em tudo e todos. O grande dilema está exatamente em conseguirmos balancear essa “relação”. Primeiro porque podemos, em um extremo, nos sentir excluídos desse universo por não estarmos frequentemente interagindo ou com medo de perder algo, um fenômeno globalmente conhecido como FOMO (fear of missing out).

Segundo, de experienciar o outro extremo, que é o prazer de ficar desconectado de tudo que está acontecendo online, conhecido como JOMO (joy of missing out).

Na briga do equilíbrio entre o FOMO e o JOMO, o desafio de agora em diante é de entender COMO, para não nos tornarmos um novo objeto de estudo baseado nas teorias do comportamento clássico de Pavlov ou do behaviorismo de Skinner.

 

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão