Exclusivo: "Prisão de Queiroz é mais um lance para desgastar o presidente Bolsonaro"

Em entrevista exclusiva ao CORREIO DA MANHÃ, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) comenta o caso Queiroz, o governo Witzel, as recentes decisões do STF e o papel da mídia no processo democrático de uma nação

Por: Claudio Magnavita*

CM: Senador, o caso Queiroz, hoje, tomou conta das manchetes e dos jornais. Ele, como disse o presidente Bolsonaro na live “ele não tinha nenhum mandato de prisão, não estava foragido, e não foi solicitada pela justiça a presença dele para qualquer esclarecimento”. Qual a sua opinião desse ciclo midiático que foi armado?

Não tenho dúvida que é mais uma peça mexida no tabuleiro para tentar desgastar o presidente Bolsonaro. Alguns dias atrás, uma das minhas advogadas já havia dito que pleitearia a suspeição do juiz Flavio Itabaiana, porque ele é uma pessoa que tem a filha como empregada do governador Wilson Witzel, a sócia da filha dele também está empregada no governo Witzel, e o próprio Wilson, quando soube da busca e apreensão, falou muito claramente “nós já temos provas suficientes para prender o Flávio Bolsonaro”. E quando ele usa “nós” se inclui nisso. Claramente é uma pessoa que interfere nas negociações e possui um vínculo direto com o juiz Flavio Itabaiana, que é o responsável por essa ordem hoje, da prisão do Queiroz, sem nenhum fato novo. Nada que tenha acontecido nos últimos dias justifica uma prisão dessas. A própria defesa do Queiroz já falou publicamente que, se houvesse a solicitação, ele tranquilamente se apresentaria às autoridades e prestaria quaisquer esclarecimentos. Ele estava em São Paulo, fazendo seu tratamento de saúde, informação que foi publicada também nos veículos de comunicação. Então, lamento que estejam usando algumas pessoas para uma disputa política. Porque, quem quiser disputar a eleição para presidente da República, precisa se candidatar em 2022, e não fazer covardias e cometer arbitrariedades ao longo de todo esse tempo até lá.

Após a operação policial, a primeira coisa que o Witzel fala é que “pelo que nós apuramos, o Flávio Bolsonaro deveria estar preso”. Ele revela nesse momento que estava por trás de toda essa ação na esfera estadual e de perseguição a você?

A primeira coisa que me vem à cabeça, Magnavita, é quando na nossa cerimônia de diplomação, quando o Wilson usou a palavra, ele faz referência direta a mim. Ele agradece muito a mim à sua eleição, uma pessoa que vai ter gratidão eterna por mim. Aí quando ele sofre uma busca de apreensão em sua casa, uma investigação originada na própria polícia civil do estado do Rio de Janeiro, muito importante frisar isso, a própria polícia civil do Rio de Janeiro, em tese que está sob o seu comando, mostrando que tem independência, ela própria faz a investigação e chega até o nome do Wilson, de sua esposa e de seu secretariado, e aí como ele tem o foro privilegiado, a Polícia Federal apenas executa a ordem judicial de um ministro do STJ. E ele faz uma menção a mim, me acusando de coisas que eu não sou, por que ele me conhece, ele sabe que eu não sou. Eu não tenho esse pecado na minha vida de ter roubado nada. Sou uma pessoa correta, coerente, honesta que nunca dei motivo nenhum. Nos meus 16 anos de parlamentar como deputado no Rio de Janeiro, sem uma vírgula para falarem de mim. Já cansaram de me oferecer cargos, de oferecer facilidades, mas eu nunca aceitei por que eu não quis, sempre foi uma opção minha, acho que você se desviar para a vida do crime é uma opção, e eu não fiz essa escolha. Eu fiz uma escolha de andar dentro da linha, dentro do meu mandato, dentro daquilo que o meu pai Jair Bolsonaro me ensinou, e quando ele tenta dar um vínculo político, de uma perseguição que estaria havendo por parte do presidente Bolsonaro nessa operação específica, ele demostra não só desconhecimento jurídico, o que é lamentável para um juiz com vários anos de carreira, ele não sabe nem qual foi a origem da investigação que foi dentro da própria polícia estadual. Portanto, nem que o Bolsonaro quisesse, ele teria ingerência, e quando ele fala que me acusa e que “nós já temos provas que minam Flávio Bolsonaro e que ele já deveria estar preso”, ele comete ali um erro fatal dando publicidade de que ele realmente tinha interferência sobre qualquer coisa que acontecesse no Rio de Janeiro, com relação aos fatos que estão sendo apurados ao meu respeito, ou com relação à minha família, e que ele faz carga, faz força para influenciar, como eu tive notícia que ele fez no caso do porteiro do condomínio do meu pai, naquela ocasião em que o porteiro chegou a dizer que o suposto assassino da Marielle tinha ido pra casa dele, no condomínio da Barra, número 3100. E depois foi providenciado que o porteiro estava mentindo, mas eu fiquei sabendo também de bastidores que o próprio Wilson teria tentado interferir diretamente nessa investigação para que causasse um desgaste no presidente Bolsonaro, mesmo sendo óbvio que nós não tivemos nenhuma participação no caso Marielle. Inclusive o próprio delegado e chefe da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro falou isso publicamente, e até hoje não se sabe ao certo qual vai ser o desfecho desse caso.

E uma das primeiras coisas que o governador fez foi atacar a instituição da Polícia Federal, como se fosse uma instituição que pudesse estar sob a influência política. Afastar a delegada Patrícia Alemany, mandando ela conta da Deat, a delegacia que atende a estrangeiros, no momento em que pandemia não deixa um estrangeiro visitar o Rio, não é interferência política?

É claro que é interferência política no meu entendimento, e como eu falei: o Wilson, acho que ele acreditou que ao me fragilizar ou atacar, ele atingiria o presidente Bolsonaro, e com isso poderia abrir portas para ele ser um potencial candidato à presidência da República com um perfil que fosse parecido ao do Bolsonaro. Mas só que ele esquece que a política pode até perdoar a traição, mas o eleitor não perdoa o traidor. E Wilson foi um traidor.

Flávio, nós estamos na iminência de um processo de impeachment no Rio de Janeiro. Você, quando apoiou Wilson Witzel na eleição de 2018, poderia imaginar que um ano e meio depois nós estivéssemos vivenciando esse quadro político?

Acho que nenhum ser humano podia prever. Uma decepção tão grande em um espaço tão curto de tempo. Uma pessoa que tinha um perfil à época que nós acreditávamos, um juiz federal, uma pessoa que achávamos que era séria e que defendia as bandeiras que o Bolsonaro sempre defendeu. E depois a gente descobre que na verdade ele usou isso só de trampolim, e após a eleição e antes de tomar posse, uma pessoa que já falava que seria presidente em 2022, mostra a total falta de caráter, de consideração e de moral com a pessoa como ele revelou por si como características. Então nunca imaginava, fico muito triste e decepcionado, por que o Rio de fato não merecia passar por mais um trauma desse. Se não me engano, já são quatro ex-governadores: o Garotinho, a Rosinha, o Pezão, o Cabral, esses já tiveram problemas com a justiça, e agora mais um. E o Rio que já não merecia, pode passar por mais um trauma, já que a Assembleia está na iminência de votar a aceitação ou não do seu impeachment.

Dá orgulho, você que esteve naquela casa, ver a Alerj com um espírito de corpo e ver os deputados valorizando o seu mandato e o papel do legislativo estadual?

Eu fico satisfeito no seguinte ponto: a gente vê que hoje, a principal questão não é nem a postura do parlamentar. Eu acho que é a postura da população em saber cobrar o parlamentar, e com as redes sociais hoje, a pressão que existe ali em tempo real, e com a transparência que a Alerj possui por que constituiu ao longo do tempo. Hoje você tem a TV Alerj, o perfil de internet e tecnologia transmitindo tudo, as sessões, os próprios parlamentares em tempo real e informando os seus eleitores pelas suas redes sociais. Eu acho que isso tudo ajuda a fiscalização do povo. Então os parlamentares em sua maioria já entenderam que, olha, não adianta querer esconder uma coisa, pois nada mais passa batido ao olhar do eleitor. E quando o eleitor olha para tudo que o governador Wilson tem feito de desmandos, de desvios, de corrupção, de falta de competência, óbvio que ele sabe que vai ser cobrado se ele titubear em uma hora como essa. Então, o placar de 69 a 0 é emblemático, foi uma coisa simbólica por que foi apenas uma decisão que o presidente Andre Ceciliano poderia ter tomado sozinho, ele compartilhou com o plenário de forma bastante inteligente ao meu ver, dividindo ali a responsabilidade, e tornando o processo mais transparente.

O Ceciliano surge como uma força política e uma liderança do estado?

Eu falo que o Andre Ceciliano está no partido errado. Eu brinco com ele né, que ele é uma pessoa que não tem o perfil do PT. Ele é uma pessoa responsável, construiu um respeito ali como presidente da Assembleia Legislativa, mostrou que tem pulso firme quando precisa, então sem dúvida alguma ele surpreende positivamente aqueles que não acreditavam nele. Eu, como convivi com ele, sempre foi um cara boa praça, cumpridor da sua palavra. Eu sempre falava que ele você está no partido errado. O questionava por estar no PT. Eu acho que em algum momento ele vai ter essa decisão de trocar de partido, mas nesse momento ele está se mostrando uma pessoa importante, e que vai ficar sem dúvida nenhuma marcado na história do Rio de Janeiro por que é o presidente da Assembleia que vai dirigir esse processo de impeachment do governador Wilson Witzel.

Como você conseguiu que o seu núcleo familiar apoiasse Witzel, já que o seu pai pretendia ficar neutro na eleição estadual? O peso político desse apoio viabilizou Witzel como governador?

É um peso grande. Já cansei de pedir desculpas aos eleitores que votaram no Witzel ao meu pedido, por que também acreditavam que ele defendia as mesmas bandeiras que nós defendíamos. De fato, o presidente Bolsonaro sempre me orientou aqui a permanecer neutro na eleição para o governo do Estado, já que ele estava fazendo campanha por todo o Brasil e deixou o Rio de Janeiro sob o meu comando na campanha eleitoral. Mas como eu falei, a gente acreditou que ele reunia as características de uma renovação, uma pessoa que vinha com um novo espírito alinhado 100% conosco, e eu assumo a minha responsabilidade, até por que eu cheguei em determinado momento, quando o Eduardo Paes tinha conseguindo junto ao TRE uma liminar para proibir que Wilson utilizasse as minhas imagens no seu programa de televisão. A decisão tinha um fundamento que não tinha a minha autorização, e nos últimos dias isso acabou sendo fundamental por que eu autorizei por escrito que Wilson utilizasse a minha imagem na sua propaganda de rádio e TV durante a campanha eleitoral nos momentos finais, e que foi decisivo para o eleitor enxergasse o Wilson como uma pessoa que tinha esse selo Bolsonaro, essa vinculação com o Bolsonaro. Então eu assumo a minha responsabilidade, mas a gente aprende com os erros, e espero que ele também aprenda em algum momento com os erros dele.

Em 15 meses de governo Witzel, nós vemos o Estado do Rio se esvaindo em escândalos. Já o governo Bolsonaro, em 15 meses, não teve um único hiato de corrupção. Você acredita que a forma que o seu pai em comanda o país é a fórmula da austeridade em respeito à coisa pública?

O presidente Bolsonaro inaugurou uma nova forma de fazer política, ele inaugurou uma nova forma de se comunicar com o eleitor pelas plataformas digitais. Agora, acho que o Wilson cometeu um erro que ele não precisava ter cometido. Por que eu digo isso? É comum, isso não foi inventado recentemente, sempre foi assim, especialmente para cargos majoritários e para presidente: alguém que se elegesse para a presidência da República, normalmente tinha uma grande coalisão de partidos apoiando junto com ele, um grande conjunto de interesses que formavam um ser bastante heterogêneo, então era natural que o presidente ao conseguir uma eleição, ele tivesse que atender a essas pessoas que o ajudaram chegar até o poder, e com isso acabavam loteando todo o seu ministério com o intuito de formar uma base parlamentar no Congresso e atender as pessoas que participaram diretamente de sua campanha. E o presidente Bolsonaro chegou de uma forma bastante independente, ele conseguiu chegar gastando a menor quantidade de recursos da história que um presidente já usou para se eleger.

Aliás, ele briga com o pastor Everaldo exatamente por isso?

Com apenas alguns poucos segundos de televisão, a discordância com o pastor Everaldo foi também em função disso, na questão de recurso, de um desalinhamento ideológico, algumas pessoas próximas ao pastor Everaldo que o presidente Bolsonaro não gostaria que estivessem perto, enfim. Foi uma separação que houve por puro desalinhamento político e ideológico, apesar de haver algumas maneiras convergentes. Então o Wilson teve oportunidade, por que ele também chegou de forma independente. Ele podia ter montado todo o seu secretariado pensando realmente no currículo deles, onde eles podiam com sua parte técnica ajudar os serviços públicos, reduzir aí os gastos do poder do governo do Estado, como nós fizemos no Governo Federal. Ele conseguiu fazer exatamente o contrário assim que assumiu, já loteando o seu secretariado, pensando em garantir uma base na Assembleia Legislativa. E essa forma de fazer política está vencida. O presidente Bolsonaro, quando ele sinaliza agora para outros partidos com a máquina da União, ele na verdade está fazendo o seguinte: “Olha, foram 14 anos de aparelhamento da máquina pública por parte do governo do PT. Então a máquina está toda aparelhada com pessoas ligadas à esquerda, ligadas ao PT, e que defendem tudo aquilo contrário que nós defendemos. Então como é uma máquina gigantesca, é importante haver não apenas a análise dos currículos, a parte técnica e a competência da pessoa, também a lealdade aos princípios políticos e ideológicos que deram vitória ao presidente Bolsonaro nas urnas, e nada mais comum também do que você ter referência de alguns parlamentares.

Queria que você falasse agora sobre a eleição municipal. Como fica a questão da eleição municipal e o seu apoio ao Crivella, já que estão na mesma legenda, e como você vê o cenário da eleição municipal no estado do Rio de Janeiro?

Bom, primeiramente eu sou grato ao Republicanos por abrir as portas do partido para mim no senado. Enquanto nosso partido Aliança não fica pronto junto ao TSE, espero que esse ano isso ainda aconteça, é a casa que me recebeu. Eu avalio aqui a eleição municipal no Rio como muito indefinida ainda, por que a gente não sabe nem ao certo como serão os candidatos, já que os nomes ainda estão sendo colocados a postos, à evidência. Alguns tem problemas também com investigações, a gente não sabe se vão se manter as candidaturas. A data da eleição também não está definida ainda, mas como eu sou o filho do presidente, não posso nem concorrer, eu tenho impedimento constitucional pra recorrer a qualquer cargo diferente daquele que eu já ocupo. Então como filho do presidente, eu só posso concorrer para a reeleição do senado. Iniciei agora meu mandato de senador, mas eu simpatizo muito com o Crivella, eu acho que ele é um bom perfil, um homem do bem, de bom coração, que se preocupa sim com as pessoas. Ele pegou um município quebrado, tá fazendo o possível para resgatar essa saúde financeira do Rio de Janeiro e recuperar a sua capacidade de investimento. E eu acho que ele está indo em uma linha razoável. Agora, tudo depende de quem vão ser seus concorrentes. Então a gente tem que esperar a ter as convenções, é muito difícil fazer a análise nesse cenário agora.

O fato de ele ter comprado os equipamentos de saúde na quantidade que comprou, em uma época que ninguém imaginaria o surgimento da pandemia, deu uma virada na imagem dele?

Eu acredito que agora, passados esses meses de pandemia, a aprovação dele aumentou bastante por que ele teve uma boa equipe de gestão que possibilitou aí a dar todo o atendimento ao carioca. Você vê que nenhuma unidade de saúde teve problema de faltar alguma coisa, de ter filas com pessoas jogadas no corredor ou fora do hospital aguardando atendimento, ninguém morreu por falta de equipamento.

Então eu acho que ele sai com uma avaliação um pouco melhor, e como eu falei: a esquerda está tentando se unir dentro de um nome para concorrer com o Crivella e um outro candidato que venha aí com um viés mais ideológico à direita. Mas eu não acredito nessa união da esquerda. Eles não têm nomes fortes e conhecidos pela população e que possam ser realmente um potencial voto do cidadão carioca. Acho difícil tanto a união da esquerda, e havendo essa união um nome que assuste um candidato como o Crivella, como o próprio Eduardo Paes, que eu não sei se será candidato, mas é o que está no páreo aí também. Não vejo um nome forte que ameace um desses dois em não estar no segundo turno.

Nós estamos gravando a entrevista no dia em que o Correio da Manhã publicou um editorial muito duro, falando sobre o perigoso precedente que é você ver a instância superior do judiciário se envolvendo em questões do varejo ideológico. Como é que você vê a atitude de um ministro do STF em criar um perigoso precedente sobre a liberdade de expressão e, sobretudo, envolvendo parlamentares de uma estirpe como o senador Arolde de Oliveira?

Eu vejo com muita preocupação, ansiedade, esse perigoso e inédito precedente. Nunca na história do Brasil um ministro do Supremo monocraticamente quebrou o sigilo de tantos parlamentares de uma só vez, e pelo menos até o momento sem nenhuma justificativa razoável. Um inquérito que, ao meu ver, começa de uma forma ilegal. Não podia estar acontecendo dessa forma. Se você quer investigar ameaças a magistrados, tudo bem, faça uma representação no Ministério Público, que é o órgão que vai iniciar essa investigação, ou a Polícia Federal, e segue o tramite normal do inquérito de uma investigação. Agora, quando a própria vítima instaura um processo, a própria vítima investiga, o próprio interessado produz as supostas provas, e o próprio interessado vai julgar, olha, isso não existe nem na Coreia do Norte. Em Cuba, o processo não é desse jeito. Então acho que tem que haver ali uma reflexão por parte do ministro que está conduzindo que é o Alexandre de Moraes. Esse inquérito que tem o nome de Fake News, mas está se mostrando um inquérito para divulgar ameaças, que são ameaças graves. Tem que ser investigadas, sem dúvida alguma, e quem estiver ali cometido excessos e incorrido algum crime tem que ser responsabilizado.nAgora você vê, a própria Sara Winter, a ativista que tem simpatia ao Governo e inclusive fazia parte do ministério da Mulher com a Damares, ela está sendo transferida para um presídio, e o fundamento da sua prisão é exatamente injúria e ameaça. Não tem nada a ver com fake news. E por incrível que pareça, desafio a você Magnavita, mostra qual foi a fake News que foi divulgada que motivou todo esse processo.

A importância do jornal é separar o joio do trigo. A fake news é um crime, mas o que eu falo é a utilização dessa bandeira, que foi o editorial do jornal, para estabelecer o cerceamento da liberdade de comunicação de imprensa. Nós estamos vivendo aqui, por parte do judiciário, algo muito parecido com a perseguição que Cuba fazia a quem quisesse se manifestar. E o editorial termina, inclusive, dizendo que isso pode virar um bumerangue, que pode voltar muito afiado para quem está atirando.

Eu acho que é um editorial bastante racional. Acho que faz jus à história do jornal Correio da Manhã, que está completando 119 anos. E não é à toa que um jornal com mais de um século pode se dar ao luxo de uma forma independente e corajosa, publicar uma opinião que, sem dúvidas é a opinião da maioria dos brasileiros, que talvez estejam com muita preocupação. Inclusive esse silêncio da grande mídia, por que se fosse ao contrário, se fosse alguém da esquerda, algum opositor do governo Bolsonaro, e estivesse sofrendo esse tipo de repreensão, não tenha dúvida que a própria grande mídia estaria fazendo uma carga enorme chamando o governo Bolsonaro de ditador

Como quando o PT quis fazer o controle da mídia?

Pois é, então para você ver. Eles relativizam tudo. O jornalista Allan dos Santos. Jornalista. E ele teve busca e apreensão na sua casa, teve todo o seu instrumento de trabalho apreendido. Ele foi violado na sua profissão, e a partir do momento que ele é uma pessoa que tem simpatia pelo presidente Bolsonaro, ele deixa de ser jornalista e passa a ser um ativista, e aí ignoram toda essa proteção que a lei de imprensa dá aos profissionais da imprensa. A mesma coisa da Sara Winter. Não quero entrar no mérito se o que ela fez é certo ou errado. Se ela errou, ela que seja responsabilizada pelos seus atos. Agora, eu acho que eu não conheço ninguém que está preso por crime de injúria. Crime de injúria é um crime de potencial ofensivo pequeno. Ela podia ser de repente condenada a pagar uma cesta básica, alguma fiança. Agora, ser presa? Eu acho que é um excesso. Esse momento é muito conturbado, e eu enxergo o seguinte: esses veículos que estão fazendo vista grossa para o que está acontecendo, o que não é o caso do Correio da Manhã, graças a Deus, eles perdem a moral eternamente para fazer qualquer crítica a quem em algum momento queira cercear a liberdade de expressão ou a própria liberdade de imprensa, cuja a origem seja um expositor

E a questão dos parlamentares? Porque a quebra foi sem nenhuma fundamentação, inclusive de um senador, eleito com o seu apoio.

Muito grave. Todos os deputados que sofreram esses excessos, assim como o senador Arolde de Oliveira, todos são bolsonaristas. Hoje, ser parlamentar e bolsonarista é muito difícil. Gera esse tipo de perseguição no meu ponto de vista. Sabe o que me surpreende? Eu não vi uma posição institucional do presidente da Câmara e nem do presidente do Senado.

Não está na hora do Davi Alcolumbre e do próprio presidente da Câmara se manifestarem?

Deveriam se manifestar como a instituição Superior Tribunal Federal se manifesta quando um de seus membros supostamente é atacado ou agredido. E eu não acho errado. Tem que haver um certo espírito de corpo para preservar as instituições, por que se fazem hoje com os parlamentares, amanhã vai ser com outros. Então, qual é o limite? Acho que hoje a máxima é o “cala a boca não morreu”. Eu lembro quando a ministra Carmem Lúcia, nos seus votos sobre a questão da liberdade de imprensa, ela falou: “cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu”, aquela máxima que a gente aprende quando criança ainda. Hoje, isso se inverteu. Hoje, é o “cala a boca não morreu”, e não há dúvida de que isso tudo que está acontecendo é uma forma de você constranger aquelas pessoas que apoiam o presidente que não submete ao politicamente correto. Então isso é muito grave, e nesse momento que nós temos aí as redes sociais, em que as pessoas podem se manifestar livremente, pelo menos por enquanto, isso tem uma ressonância gigantesca que foge ao controle de qualquer um. Então, as pessoas não podem achar que quando há uma mobilização, seja em rede social, seja na esplanada dos ministérios em Brasília, que há algo direcionado pelo presidente Bolsonaro, por que não é. Não está sob o seu controle o que acontece. Há uma manifestação espontânea por parte do povo. Aí se chega um maluco lá, com uma faixa “vamos fechar o Supremo”, isso não pode ser transformado como uma regra para as pessoas que estão lá, ou como se o Bolsonaro estivesse a favor daquilo, por que ele não apenas falou inúmeras vezes, como cansou de dar provas de que o seu governo é democrático.

Não há, na história da República, um presidente que tenha tanto contato com a mídia, como tem sido o presidente Bolsonaro. Agora, você acha que ser bolsonarista não vai ajudar na vitimização desse processo? Isso, ao contrário de quebrar, não vai fortalecer?

Eu não tenho a menor dúvida disso! Como falei, hoje há um processo de transparência da política. Acho que é o maior valor, e ninguém pode controlar isso. Então não adianta alguém achar que vai constranger dois, ou três, ou quatro, ou dez militantes políticos a favor de Bolsonaro, e que toda a massa não está enxergando que isso é uma perseguição. Isso também cria um espírito de unidade daquelas pessoas de se ajudarem e de estarem cada vez mais ativas, defendendo aquilo que elas acreditam, se ajudando. Então eu não tenho dúvida que esse processo acaba fortalecendo mais o conservadorismo, a direita, as ideias que nós defendemos, e isso deu um efeito, na minha visão, grande nas próximas eleições municipais, e principalmente nas eleições de 2022, por que todos vão ver como alguém que ousa se levantar contra o establishment, contra o status quo, trazendo a verdade ao seu lado, como ele é perseguido e como vale a pena você lutar pela liberdade do seu povo.

Você tem a mídia internacional reconhecendo a franqueza do presidente, que fala o que pensa. Isso tudo é um processo democrático de aprendizagem, e você tem a questão da mídia. O esgotamento que já se tem dessas manchetes e a perda de credibilidade desses veículos, faz com que o povo não leve mais em conta o que determinados veículos passam?

Por os veículos deixaram de publicar fatos e estão publicando versões. E quando você tem um veículo como O Globo, por exemplo, como as Organizações Globo, que declaradamente se coloca em oposição ao governo e, por consequência, ao país, por que eles atrapalham o presidente em governar, eles fazem de tudo para dar errado, eles não enxergam que estão no mesmo barco, que se o presidente cair, eles vão cair juntos; os investimentos que deixariam de ocorrer aqui impactam também as suas redações. A prova disso é que se você pegar a quantidade de empregados que a Organização Globo tinha há cinco anos e ver a quantidade de agora, reduziu muito. Se você pegar a tiragem do jornal O Globo, ver quantos assinantes tinham... Isso reduziu demais. Tudo isso vai mostrando como eles perdem a credibilidade, por que ninguém aguenta mais ver tanta notícia ruim. Se você for ver na Globo, canal aberto, ou na Globo News, canal fechado, você em 24h comete suicídio, por que você acha que o mundo vai acabar. Não tem uma notícia de esperança. Não tem uma pauta positiva. Parece que o governo só faz coisa errada. Depois vestiram a máscara de inimigos do governo Bolsonaro, e estão fazendo de tudo para tentar derrubá-lo. Agora, já não tiveram sucesso com Michel Temer

Não tiveram sucesso com Michel Temer e não tiveram sucesso no processo eleitoral

Tentaram mas não conseguiram, e não vão conseguir derrubar um presidente que é temente a Deus e tem um povo ao seu lado, e que não ameaça a democracia em tempo nenhum. Então eu acredito muito, Magnavita, apesar desse tempo ruim e conturbado que estamos vivendo, e há um trabalho muito de bastidor para aparar a aresta, para evitar telefones sem fios, e essa espécie de guerra fria que parece estar acontecendo, olha, de um lado achando que o Bolsonaro vai dar um golpe, o outro lado achando que há uma conspiração achando que vão derrubá-lo e caçar sua chapa eleita na última eleição. Eu acho que é preciso ter um diálogo um pouco maior, mais franqueza e conversa olho no olho, de pessoas que tem responsabilidade tratando diretamente, e sabendo que tudo não vai levar a lugar nenhum. Só leva ao sofrimento. Você imagina uma ruptura nesse momento como seria ruim para todo mundo. Você acha que as pessoas andaram em paz na rua com uma ruptura? Claro que não! Então devemos buscar o diálogo sempre.

*Diretor de Redação do Correio da Manhã