Um partido tem que investir na formação dos seus quadros

Há 10 anos como deputado federal Aureo Ribeiro, presidente do Solidariedade do estado do Rio e Vice Presidente Nacional do partido, que começou a vida como camelô, falou com exclusividade ao Correio da Manhã. Ele faz um raio X das próximas eleições e aposta que o partido elegerá 18 prefeitos, 20% dos dirigentes de municípios do Rio. A legenda criou em Caxias um centro de capacitação para os seus candidatos, que surpreende pela estrutura profissional a disposição dos filiados.

Por: Claudio Magnavita

CM: Deputado, o senhor tem uma atuação muito municipalista. O crescimento do Solidariedade no Estado do Rio tem muito a ver com esse enraizamento do partido nas questões municipais. Qual panorama que nós vamos ter na eleição municipal de 15 de novembro?

Aureo Ribeiro: A gente acredita que foi a forma mais prudente de discussão de um debate democrático transferir para 15 de novembro. Primeiro porque a Câmara escutou vários especialistas em saúde pública, e determinou que o melhor momento para ter eleição esse ano seria no mês de novembro, passando todo esse pico da pandemia. A gente acredita em um modelo novo de eleição.
No ano de 2018, a gente teve um modelo de eleição com a presença muito forte das redes sociais, quando a gente teve uma nova forma de se comunicar com o eleitor, e uma nova maneira de fazer política. No ano de 2020, nós vamos viver esse momento novamente. Nós vamos viver um momento em que o eleitor quer um contato direto com o seu representante, que o eleitor tenha oportunidade de falar com o seu representante através do WhatsApp. A gente acredita que é uma eleição em que o eleitor terá acesso direto a quem ele vai escolher. Então ele precisa desse contato direto e, através das redes sociais, é possível aproximar o eleitor do seu representante, tirando aquele intermediário que ficava fazendo essa ponta.
Então a gente tem respostas mais rápidas, tem que se comunicar mais rápido, viver uma eleição muito mais digital do que uma eleição na força dos cabos eleitorais.

CM: Tem um rumor que o Solidariedade vai fazer a maior bancada de prefeitos, que vai eleger o maior número de prefeitos. Como é que estão as perspectivas no Estado do Rio de Janeiro?

AR: O Solidariedade vem se preparando. Um partido novo, nasceu em 2013. Disputou a primeira eleição em 2014 para a Câmara dos Deputados, depois disputamos em 2016 a eleição municipal, e agora é a segunda eleição municipal que a gente vai participar. Nós temos uma perspectiva de fazer a maior bancada de prefeitos do Estado do Rio de Janeiro, investimos muito na capacitação, em preparar os nossos candidatos, ter o diálogo sempre presente, transparência nas ações dos nossos candidatos para que a gente possa ter esse caminho com o eleitor e ter informações trocadas com o eleitor.
A gente está acreditando muito. São doze prefeitos de mandato no Solidariedade. Acreditamos e vamos trabalhar para 18 prefeitos após a eleição de agora. Vamos ter 18 prefeitos em nossa bancada do Solidariedade no Estado.

CM: Dá 20%?

AR: 20% do Estado? Sim.

CM: Quem visita a sua sede em Caxias, fica surpreso. Parece empresa privada, em termos de estrutura, para atender a atividade política. Comenta sobre esse profissionalismo que você desenvolveu na sede do partido em Caxias

AR : A gente já vem há alguns anos preparando, treinando e qualificando a equipe, fazendo formação, estudando na ESPM, em São Paulo... Preparando a equipe para trabalhar em um projeto de formação. A gente entende que a política precisa se reinventar e por isso montamos um centro de formação política, para que ele dialogue com os nossos secretários, vereadores, pré-candidatos, prefeitos, vice-prefeitos, formando e capacitando para que a gente possa fazer o debate.
Uma formação importante é a das redes sociais, facilita esse acesso do candidato com o eleitor, a gente tem mais clareza no debate e tem melhor aproveitamento desse candidato. É nisso que acreditamos hoje.

CM: Na sua gestão no estado, o Solidariedade tem sido um partido de fazer, de executar. E você tem algumas vitórias. Por exemplo, você conseguiu uma vitória na área da cultura extraordinária, já que o partido tem tanto a Secretaria Estadual de Cultura, como a Secretaria Municipal

AR: Eu acho que essa sinergia facilita. O Rio é muito rico na questão cultural. A gente tem grandes equipamentos tanto no município do Rio, como no estado. Pensamos em uma cultura unificada, que também dialogue muito com o Governo Federal, que é o autor principal nesse projeto.
Nós conseguimos vitórias importantes, como acabar com a burocracia do Fundo do Estado do Rio de Janeiro, fomentando a cultura para os fazedores de cultura. Criamos o fundo na cultura municipal, também lidando ali com um apelo antigo, da luta de uma classe. Então nós estamos trabalhando e qualificando toda a equipe para que possa devolver cada centavo dos impostos pagos pelos moradores do Estado do Rio de Janeiro. Esse é o nosso desafio, com transparência e qualidade na ponta.

CM: Ainda na área da cultura, queria que você desse um perfil dos dois titulares, tanto da secretaria estadual quanto da secretaria municipal

AR: São dois trabalhadores que querem ver esse estado, esse município dar certo. Estão muito alinhados na discussão da cultura, e com outras secretarias, porque você tem que interagir. Danielle é uma professora da cidade do Rio e também de Caxias, e que teve uma oportunidade de estar na secretaria de cultura e fazer um belo trabalho.
Adolfo Konder, um nome de gestão que ocupa a pasta hoje na secretaria de cultura do Estado do Rio de Janeiro, então eu acho que essa sinergia dos dois, de trabalhar em conjunto e não perder tempo, sempre pensando em um projeto maior para o Estado do Rio de Janeiro. Eu acho que é fundamental para o trabalho render.

CM: Agora, quem teve acesso à nominata do candidato a vereador na capital ficou surpreso com o que você conseguiu montar. O partido pode surpreender também na capital?

AR: O partido vai surpreender na capital. A gente tem bons candidatos, a gente tem dois vereadores de mandato, que é o vereador Jairinho e a vereadora Fátima do Solidariedade. Nós acreditamos em ampliar bem a bancada, ter um número expressivo na Câmara dos Vereadores, para que a gente possa sim lutar por projetos importantes na capital do Rio de Janeiro.

CM: Sobre a questão nacional, o presidente do Solidariedade enfrenta um problema muito delicado e ocupou de forma negativa a mídia. Como você, vice-presidente nacional do partido, vê a situação do seu presidente. Como você vê o desgaste que isso pode gerar para a legenda?

AR: Eu acho que cada um é responsável pelo seu CPF. O presidente enfrenta um problema, mas está em fase de recurso ainda, tem toda a clareza, e demonstrado lá que o voto do relator foi favorável ao presidente nacional, ele vai discutir com a parte jurídica dele. E o partido é muito plural. Está presente em diversos estados, tem discussão em diversos estados, tem hoje uma atuação importante na Câmara dos Deputados, que continua a todo o vapor, e cada um tratando de suas particularidades.

CM: Mas gera desgaste para a legenda?

AR: Não. Não acredito nesse desgaste da legenda, até por que não está transitado e julgado. Então, a gente tem um presidente efetivo à frente do partido, tocando a instituição partidária nacional, e os estados trabalhando muito para que possa crescer o nosso partido.

CM: Qual a sua avaliação sobre Rodrigo Maia?

AR: Rodrigo Maia é um presidente da Câmara. Importante para o Estado do Rio de Janeiro hoje. A gente viveu momentos em que o Rodrigo foi decisivo na condução da Câmara. Ele conduz a Câmara muito bem na nossa avaliação, dialogando para manter a democracia ativa, e nós acreditamos muito que o trabalho dele tem sido em prol do Rio de Janeiro, como a questão da recuperação fiscal. Matérias importantes que foram votadas no Brasil para a gente viver esse momento hoje.

CM: Hoje, o presidente da República é do Rio, o presidente da Câmara, é do Rio, e, a partir de setembro, o Superior Tribunal Federal também terá um presidente do Rio, que é o Luiz Fux. Essa conjugação de fatores não precisa ser mais bem explorada pelo próprio Estado do Rio de Janeiro?

AR: Eu acho que o Rio está tendo essa oportunidade de concentrar aqui o Presidente da República, de concentrar o presidente do Poder Legislativo na Câmara dos Deputados, que é fundamental, agora o presidente do STF. Acredito que a gente vai saber sim utilizar isso em benefício do Rio de Janeiro, por que essa é a nossa expectativa. A gente começa a viver outro momento no Governo Federal, um momento mais plural, onde a Câmara consegue ter um diálogo melhor com o Executivo. Estão tendo matérias importantes nesse momento de pandemia, matérias fundamentais como o auxílio emergencial que votamos em todos que estão no mercado informal, como a lei da cultura Aldir Blanc, com quase todos os partidos, como o auxílio às micro e pequenas empresas, que é fundamental nesse momento. Só um partido não deu voto favorável. Então, eu acredito que começa a ter essa sinergia de trazer benefícios, não só para o Rio, mas para todo o Brasil.

CM: Vamos falar em relação à capital. O partido faz parte da base do prefeito Marcelo Crivella e tem uma secretaria importante. Como você vê as possibilidades da reeleição do prefeito?

AR: Eu acho que a cidade do Rio precisa ser discutida. O prefeito Marcelo Crivella tem trabalhado muito. Um prefeito muito atuante na pandemia. A gente tem um hospital de campanha do Riocentro, a gente tem atravessado esse problema do Rio de Janeiro na questão econômica, temos a questão do petróleo, dos royalties, mas tem avançado e tem trabalhado. Agora, o Rio merece um debate. É uma cidade importante no nosso país que vai ser debatida. Nós estaremos somando junto com o prefeito Marcelo Crivella para a reeleição.

CM: E o Wilson Witzel e a fase que o governador atravessa?

AR: O governador atravessa uma fase difícil, mas acreditamos muito em sua capacidade. O Governo do Estado tem trabalhado muito, e tem setores importantes que o governador tem acertado, e administra agora um problema não foi visto em nosso Estado nos últimos anos: um impeachment. Eu vivi isso em Brasília. O impeachment não é uma coisa fácil a ser discutida. Não é um probleminha. É um problema, mas eu tenho clareza que o governador vai conseguir trabalhar, esclarecer na comissão aberta todos os problemas que ele enfrentar.

CM: Você tem a segunda maior bancada da Alerj. A Comissão dos Deputados está liberada na questão do impeachment?

AR: A gente não tem posição partidária fechada. A gente acredita muito nesse momento de o governador levar seus esclarecimentos à Assembleia Legislativa e na competência de nossos parlamentares para fazer ali o julgamento. Acreditamos muito na defesa do governador do Estado.

CM: Nós demos uma capa no jornal falando do renascimento da Alerj, ou seja, da valorização do trabalho do parlamentar estadual. Como você vê esse momento de união na Alerj, com a valorização dos mandatos de seus ocupantes?

AR: Eu vejo muito como positivo, não só o que a Alerj vive, mas o que a Câmara vive. O parlamento cresce na opinião pública hoje, em pesquisas realizadas. A gente vê a importância e o reflexo da democracia brasileira. Então eu acho que o parlamento está acertando aqui no Estado do Rio de Janeiro. Tem a sua autonomia, são poderes independentes que precisam ser respeitados.

CM: Como parlamentar e com a atuação que você tem, qual seria sua grande frustração na sua atividade como deputado?

AR: Eu sou muito feliz. Eu nasci na Baixada Fluminense, em Duque de Caxias, na cidade em que moro até hoje. Eu comecei vendendo revista no calçadão de Caxias, foi quando comecei minha vida profissional. Se a gente não falar que temos momentos de um dia triste, a gente tem. Mas eu nem consigo lembrar, por que são tantas coisas boas que acontecem a todo o tempo com o nosso mandato, sendo 10 anos de mandato como deputado federal, disputei na primeira eleição e ganhei na primeira eleição, enfrentei as dificuldades do dia a dia...

CM: Você chegou à Câmara com quantos anos?

AR: Cheguei à Câmara com 31 anos de idade, enfrentando as dificuldades de não conhecer ninguém naquela casa. Então, a cada dia era uma expectativa, e cada dia era um tijolinho para colocar

CM: Dez anos depois, você é vice-presidente nacional de legenda, presidente de legenda no Estado do Rio e montando a legenda na cidade do Rio com o Ronald Ázaro. Como você vê essa trajetória, esse crescimento, essa projeção em dez anos?

AR: Eu vejo que o único caminho é o trabalho. A gente trabalhou muito, teve pessoas nos ajudando nesse dia a dia, um conjunto de pessoas pensando com solidariedade, como o Ronald Ázaro e os 91 presidentes municipais que trabalham...

CM: O Ronald foi uma grande aquisição?

AR: O Ronald veio momento certo, na hora certa, o nome em que a gente já tinha uma relação bem estreitada, e conseguimos colocar o Ronald no Solidariedade na capital. Foi muito importante para o Solidariedade, é um grande nome da política do Estado do Rio de Janeiro, que soma hoje para que a gente possa trabalhar para o futuro do nosso partido.

CM: Qual foi o projeto ou momento sua vida parlamentar que você percebeu que vale a pena à luta de ser político?

AR: Eu celebro cada conquista nossa. Então, a gente teve conquistas importantes para a Baixada Fluminense. Tivemos conquistas importantes para o Estado fluminense, tivemos consquistas importantes para o Brasil. Eu me lembro da primeira conquista que me marcou muito, quando fizemos uma discussão na Câmara dos Deputados, sobre o debate se o plano de saúde deveria ou não cobrir o tratamento de um dependente químico. Aquilo parecia no momento uma coisa simples, mas para mim aquilo foi de uma grande alegria, principalmente quando a gente conseguiu sensibilizar e colocar as portarias necessárias para o plano de saúde cobrir o tratamento de um dependente químico. Eu acho que foi um grande avanço e que foi uma conquista importante. E depois as conquistas que a gente levou para a Baixada Fluminense. Depois a democratização da cultura em que a gente trabalha firme. A gente aprova uma lei agora que injeta no caixa do Estado do Rio R$ 100 milhões, no caixa da Prefeitura do Rio, R$ 39 milhões, no caixa da Prefeitura de Caxias, R$ 5 milhões, fomentando cultura, cuidando de quem? Dos fazedores de cultura, de quem milita nessa área e precisa ter hoje um olhar. A gente não pode lembrar só da cultura em um momento de pandemia, quando você lê um bom livro, assiste um bom filme, ou escuta uma boa música. A gente tem que lembrar no dia a dia, que essa classe precisa ser valorizada, que essa classe precisa de atenção, que ela precisa ser bem representada. Então eu acredito que foi uma vitória importante hoje, a última vitória nossa de grande expressão.

CM: Como você vê a questão da demonização da política entre os jovens? Você não acha que deveria ter um trabalho para que a política efetivamente voltasse a ser exercida com P maiúsculo?

AR: Eu acho que a gente está resgatando isso. A gente teve o boom da internet com a questão das fake news, a gente teve um boom nesse momento. E hoje em dia a gente começa a ter um outro olhar, das pessoas buscando a fonte, checando se aquilo é verdade, você vê as últimas pesquisas realizadas, a favor da democracia, reconhecendo o papel do parlamento, reconhecendo o papel das instituições, querendo instituições fortes que possam te representar, e esse momento que a gente vive da tecnologia, que antigamente você queria falar com o deputado federal, mas você não falava. Hoje você pega seu WhatsApp ou o seu Instagram, ou o seu Facebook e manda um recado para ele na hora. Ele tem que te responder. Cabe ao parlamentar te responder. Isso muda a relação. Mas a própria dinâmica das sessões virtuais tem sido extraordinária, por que pela primeira vez o deputado presta atenção no que o outro está falando, ao contrário do plenário que enquanto usam a tribuna ou ficam em conversa paralela, a sensação é que na tribuna virtual todo mundo está prestando atenção e todo mundo está descobrindo um novo parlamento, por que a riqueza do uso da tribuna é extraordinário. A gente descobre também que a Câmara pode trabalhar mais ainda. A sessão virtual agiliza alguns processos, eu acho que a gente vai ter que repensar isso para um futuro bem próximo quando voltar, de ter sessões virtuais para agilizar na segunda, na sexta, votar projetos que tenham mais consenso na Câmara, e o que não tiver, tem que ampliar o debate e a gente vota no presencial, e o que tiver a gente vota no online, mas para a gente conseguir produzir mais e responder ao anseio da população brasileira

CM: Você é a favor da possibilidade do Rodrigo Maia ter mais um mandato como Presidente da Câmara?

AR: Eu acho que o Rodrigo já desenvolveu o seu papel, é um presidente histórico da Câmara, vai fazer quase cinco anos de Presidência na Câmara dos deputados, e a Câmara é um ambiente plural, onde outros tem que ter a oportunidade de presidir a instituição.

CM: Deputado, qual a sua mensagem final para os leitores do Correio da Manhã, e principalmente para a classe política do Estado do Rio de Janeiro, sobre o momento atual em que nós vivemos?

AR: Que a gente tire as diferenças, pensar no momento principal agora que é vencer um único inimigo, que é o coronavírus, e com muita união, transparência e dedicação, a gente possa pensar em nosso Estado, que vive um momento econômico muito difícil, superar a questão das siglas partidárias, mas sim trabalhar na defesa do Rio de Janeiro.

CM: Eu tenho uma pergunta final, sobre a questão desse seu amor por Caxias. É impressionante a sua fidelidade às suas origens e colocar o centro do partido lá. Como é essa relação de amor, de cantar na sua própria aldeia?

AR: Ali eu nasci, ali eu cresci, ali eu vivo. Ali me deu oportunidade para ser comerciante, ali eu estudei nas escolas públicas da cidade, ali está a minha base eleitoral, ali está a minha família. Então, naquela cidade, eu construí tudo. E não poderia deixá-la agora nesse momento. A gente pode formar, capacitar, começar pela minha cidade, em Duque de Caxias. Então a gente acredita na formação, na capacitação. Por isso que o centro está ali, atendendo esse anseio de melhorar a vida das pessoas que moram na Baixada Fluminense.

Sede do Solidariedade no Rio impressiona pela sua estrutura