Após encontro com Bolsonaro, Pacheco aumenta pressão e diz que política externa 'ainda está falha'

Danielle Brant e Raquel Lopes (Folhapress)

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), voltou a cobrar do presidente Jair Bolsonaro mudanças na política externa brasileira, considerada pelo senador falha e que precisa ser corrigida para que o país tenha um Ministério de Relações Exteriores "que funcione".

Pacheco se reuniu na manhã desta sexta-feira (26) com Bolsonaro, depois do primeiro encontro com governadores para tratar das demandas no âmbito do comitê nacional de enfrentamento à Covid-19.

Ao final do encontro, disse ter externado novamente ao presidente a insatisfação com a política externa brasileira. O chanceler Ernesto Araújo é visto por Pacheco e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como um dos principais responsáveis por fracassos nas ações de combate à pandemia. "A permanência ou a saída do ministro, de qualquer que seja ele, cabe ao presidente. O que nos cabe enquanto Senado, Câmara, enquanto Parlamento, é cobrar e fiscalizar as ações do ministério", afirmou. "E consideramos que a política externa do Brasil ainda está falha, precisa ser corrigida, é preciso melhorar a relação com os demais países, inclusive com a China, porque é o maior parceiro comercial do Brasil".

Segundo Pacheco, Bolsonaro ouviu as críticas, mas não fez comentários nem sinalizou se o ministro será mantido ou substituído. "Com ministro A ou ministro B, o que importa é um ministério que funcione".

Nesta semana, a insatisfação com a conduta de Ernesto à frente do Itamaraty ficou clara nas participações do ministro em sessões na Câmara e no Senado. O chanceler foi criticado e recebeu pouco apoio de aliados do presidente. Auxiliares de Bolsonaro dizem que a forma escolhida para pressionar pela troca de Ernesto foi agressiva e, na opinião deles, deve fazer o processo demorar mais.

Ainda de acordo com auxiliares, o presidente se irritou com o tom das críticas e em especial com declarações de Lira, que, na quarta-feira (24), chegou a falar de "remédios amargos" e "fatais" do Parlamento caso não exista, do outro lado, a "flexibilidade de ceder". Pacheco falou ainda sobre Filipe Martins, assessor para assuntos internacionais da Presidência, flagrado fazendo gesto obsceno e racista durante sessão do Senado em que acompanhava Ernesto. Martins, que se apresenta nas redes sociais como professor de política internacional e analista político, fazia um gesto que pode ser lido como "ok", mas também como "vai tomar no c.", especialmente no Brasil.

O gesto, no entanto, tem outra conotação para grupos de extrema direita dos EUA e foi classificado como "expressão da supremacia branca" pela Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização que monitora crimes de ódio naquele país. Os três dedos esticados simbolizam a letra "w", que seria uma referência à palavra em inglês "white" (branco). Já o círculo formado representa a letra "p", para a palavra "power" (poder). Ou seja, o símbolo é apontado como símbolo de "poder branco".

"Conversamos a respeito disso muito rapidamente. Eu informei ao presidente da República que isso é objeto de um procedimento de apuração e de investigação no âmbito da Polícia Legislativa do Senado, que terá suas conclusões", disse. "E as consequências jurídicas deste fato serão obviamente existentes, serão apuradas, e as providências, tomadas."

Pacheco reiterou que o Senado repudia qualquer "tipo de manifestação racista, de ato obsceno, gesto obsceno" e qualquer tipo de brincadeira de mau gosto, "caso tenha sido essa a intenção". "Seja qual for a intenção, foi um comportamento completamente inapropriado." Segundo o presidente do Senado, a polícia vai apurar o fato, a materialidade e a autoria, sugerir a tipicidade e encaminhar ao Ministério Público e ao Judiciário para que sejam tomadas providências.