‘É combater o vírus e denunciar os vermes’

Apresentadora do SBT, Isabele Benito, tem sido uma das vozes do jornalismo do Rio em meio ao coronavírus e as denúncias de corrupção na saúde

Por: Ive Ribeiro

O CORREIO DA MANHÃ conversou com a jornalista Isabele Benito, apresentadora do telejornal SBT Rio, que se destaca de segundas às sextas na hora do almoço com um jornalismo opinativo. Isabele também está na Rádio Tupi e assina uma coluna no jornal O Dia.

Durante a entrevista, Isabele falou sobre sua trajetória na carreira e sobre o atual momento em que o país vive e sobre o papel do jornalismo durante uma pandemia.

CORREIO DA MANHÃ: Conte um pouco sobre a sua trajetória no jornalismo.

Isabele Benito: Comecei na minha cidade, a pequena Santo Anastácio (São Paulo), quando ainda fazia faculdade. Trabalhava na rádio diariamente e nos finais de semana cobria festa “à lá Amaury Jr.”

Depois entrei numa afiliada da Rede Globo, pelo programa Estagiar. Lá, fiquei sete anos e passei por todos os departamentos, desde produção, edição, apresentação, até minha grande paixão: a reportagem. Em São Paulo, fui setorista na BMF & BOVESPA, pelo canal rural. De lá, cheguei no Rio de Janeiro, em dezembro de 2008, onde estou no SBT, desde então.

Você tem uma postura bem enérgica na apresentação do telejornal e não abre mão de se emocionar e interagir com o telespectador. Qual o segredo para manter essa linha sem passar do ponto?

Ser verdadeira. Procuro não chorar, mas se isso acontecer, como já aconteceu, pode ter certeza que foi verdade. Sou a Isabele ali, como sou em qualquer lugar. Ali (SBT-Rio) é como se fosse a sala da minha casa. Por isso me emociono, dou minha opinião, acerto e erro também. É um jornalismo opinativo, e nesse tipo de apresentação que eu faço, passa do tipo quem vira personagem. Eu não sou atriz, sou Isabele Benito, jornalista, comunicadora.

Qual o papel do jornalismo nesse tempo de pandemia do novo coronavírus?

O jornalista é sempre essencial e primordial em qualquer crise. Nessa então, nem se fala! Primeiro reforçar o combate à Fake News, depois orientar, como foi logo no começo.

A gente noticiava e também orientava o básico como lavar as mãos, usar máscara. Depois, as cobranças por leito, dar voz aos desesperados no auxílio emergencial. Agora estamos numa fase de ver realmente como vai ser a volta e entender que momento é seguro para isso. Algo que aconteceu antes do que eu previa são as bombas em relação à corrupção da pandemia. É combater o vírus e denunciar os vermes. Se eles existirem de fato, tem que cobrar punição severa, com coragem.

Qual a sua análise da atuação do governo do Rio no combate ao coronavírus? Como você vê o atraso nas obras da Iabas, que até o momento só entregou um hospital de campanha, apesar de ter prometido sete unidades?

O governo do Rio, como em outros estados, foi muito assertivo no começo em não negar a pandemia e encarar como algo grave. Em março foi decretada a quarentena, assumiu que era preciso agir rápido.

Em relação ao atraso dos hospitais de campanha, que ainda não ficaram prontos com o pico já acontecendo, é surreal! O porquê isso aconteceu e as relações com o Iabas, temos que esperar quem investiga dar um parecer. Se houve algum favorecimento, corrupção ou irregularidade, quem tem que dizer é a polícia, Ministério Público e justiça. Cabe a gente acompanhar e mostrar para população.

Constantes notícias sobre corrupção e superfaturamento na compra de respiradores surpreendem você nesse momento de pandemia?

A corrupção não surpreende, mas se for comprovado que as pessoas se aproveitaram de algo tão sério como uma pandemia mundial, em que milhares de pessoas morreram ou podem morrer por causa de um inimigo tão poderoso, é óbvio que isso surpreende..., mas não é só surpreender. Se for comprovado, é de causar náuseas.

O Rio tem seus quatro últimos governadores com sérios problemas na justiça. Agora, Wilson Witzel é investigado. Como esse ciclo atrapalha a população do estado?

Ser alvo e investigado para quem vive a vida pública não é novidade. Por isso, temos que entender o jogo político para poder falar dele.

É óbvio que, com um histórico do Rio de Janeiro, isso vira um trauma e o holofote é maior. Neste momento, todos os esforços devem estar voltados para a pandemia e combate ao vírus, mas quem dita a investigação são os acontecimentos. Para isso, temos que acreditar nas instituições e por isso a importância de elas serem isentas e livres para punir quem quer que seja.

Alguma dica da Isabele para quem está em casa e passando por esse momento tão difícil, se dividindo entre o medo da doença e o de perder o emprego?

Viver um dia de cada vez. Não adianta criar ou sofrer por um futuro que ainda não se sabe como vai ser. Fácil, claro que não será! Mas a capacidade de se refazer do brasileiro é incrível.

Eu aproveito para deixar aqui um recado. Que isso sirva para o povo entender que o processo democrático é muito importante e a escolha de quem decide por ele em momentos como esses é de suma importância.

Lute por políticas de governo, não de governantes! Aprenda a ouvir quem pensa diferente... Saia da bolha!

Tudo vai dar certo de alguma forma. Valorize estar vivo, muitos não tiveram essa oportunidade de conhecer esse novo amanhã.