Depois da Alerj, a presidência da Câmara

Por Claudio Magnavita

Com 40 anos, Carlo Caiado está no seu quinto mandato como vereador. Entretanto, este será um pouco diferente dos demais, já que foi eleito presidente da Casa. Nesta entrevista, ele comenta suas perspectivas para este ano de pós-pandemia, as medidas para fiscalizar as ações contra o novo coronavírus e os projetos futuros no Palácio Pedro Ernesto.

Claudio Magnavita: Primeiramente, presidente, qual leitura podemos ter sobre a eleição de um vereador que tem forte entrosamento com a Barra da Tijuca, que hoje tem seu representante como presidente da Casa?

Carlo Caiado: Vereador da cidade, no quinto mandato, em que me elegi com votação expressiva em vários bairros, ser o mais votado da Barra, logicamente, é muito significante. É um bairro que engloba todas as características da cidade: natureza, empreendimento e a expectativa de um futuro de desenvolvimento urbano. Ao mesmo tempo, tem uma centralidade muito grande do que é a essência da cidade, não só pela natureza, mas pelo turismo. Significa muito, pela quinta vez, ou até sexta, porque tive uma candidatura como deputado estadual, ser o mais votado na região.

CM: Você estava no exercício do mandato (de deputado), quando acabou voltando para a Câmara. O CORREIO DA MANHÃ, na Coluna Magnavita, até deu uma nota dizendo que você não voltou triste, voltou feliz porque a Câmara é uma Casa que sempre foi sua. Mas você acha que o destino ali já estava preparando você para assumir uma das posições mais relevantes e ser presidente do Legislativo do município?

Trabalhei muito para ser deputado estadual, um período curto que foi muito marcante. Consegui trazer o programa Segurança Presente para a Barra, além do Recreio Presente e o Jacarepaguá Presente. Acredito muito no destino, sim. A Câmara sempre foi minha casa, entrei muito novo ali, com 23 anos, e conhecia todo mundo, vários servidores, vereadores. Voltei como se estivesse voltando para a mesma época em que eu saí.. Esse aprendizado de cinco mandatos e esse período curto na Alerj vão realmente me ajudar a fazer uma administração focada na gestão e no planejamento que buscamos.

CM: A Câmara é muito mais que uma casa de leis, ela tem uma atuação de pensar no futuro do planejamento da cidade, ou seja, preparar a cidade para o futuro e ser, junto do poder Executivo, um poder que discute e normatiza a cidade. Como você avalia essa visão da importância histórica da Casa e da valorização do Legislativo do Rio de Janeiro?

Com 51 vereadores, a Casa é o reflexo da sociedade, cada um tem sua representatividade. E mais do que nunca, neste momento, como não houve coligação, tem muito mais partidos, uma pluralidade muito forte. Costumo dizer que o Rio de Janeiro ainda é a capital do Brasil, capital de importância, conhecimento, no sentido de todo mundo conhecer.

CM: No turismo e na cultura, sem dúvida, a capital do país.

Sim, acredito que a gente vive um momento muito bom de reconstruir a cidade e, com várias medidas, a Câmara vai buscar seu protagonismo de liderar a cidade, sem nenhuma disputa com o poder Executivo. Vamos buscar, neste momento, junto com o Executivo, ajudar a conduzir esse processo de reconstrução, porque há a necessidade de aprovar muitas leis para podermos atualizar esse desenvolvimento, seja urbano ou econômico. Estamos em um momento de recuperar as finanças da cidade. Precisamos fazer uma justiça fiscal com a população sobre o IPTU. O plano diretor da cidade, em fevereiro, completa uns 10 anos. A partir de fevereiro, a presidência vai fazer uma comissão especial público-partidária para começar a nortear a cidade nesse debate, que vai envolver a cidade como um todo e todas as entidades.

CM: Como eu disse, preparar a cidade para o futuro?

Sim, nós fomos agora escolhidos pela Unesco para sermos a capital mundial da arquitetura, temos a Etapa Mundial da Arquitetura, e temos que aproveitar este momento para essa discussão ser aprofundada no plano diretor e aprovar as legislações. Não só o plano diretor, mas as legislações que são significantes.

CM: O prefeito Eduardo Paes é do seu partido, mas você sempre se portou com uma independência partidária muito grande. Como vê essa questão da independência do Legislativo? Até porque você foi eleito por aclamação, foi candidato único. Até no meu discurso de posse, eu coloquei, não só o fato do mandato do Carlo Caiado ter sido sempre independente nas votações e nas atitudes, também na presidência. No primeiro dia útil de ato administrativo, criamos três comissões de representação pela Câmara Municipal, já demonstrando a independência da Casa. Por que isso? A Comissão de Saúde é presidida por um médico que não não fez campanha para o prefeito, mas respeita-se sua qualidade dele por ser médico, ter conhecimento e ter sido presidente da comissão de saúde da legislatura passada.

O vice-presidente, o vereador Paulo Pinheiro, é do PSOL, e o relator é outro médico, o Jairo Amorim, do PSL. Na Comissão de Desenvolvimento Econômico e Tributário, que vai trabalhar na recuperação fiscal da cidade, o presidente, o Rafael, apoiou o prefeito, mas o vice-presidente é o Lindbergh, do PT, e o relator é o vereador Pedro Duarte, do Novo. A Comissão de Retorno às Aulas, que é o ato da presidência, o presidente é o Márcio Santos, do PTB, que não apoiou o prefeito para a candidatura e o relator é do PSOL, o Tarcísio Motta. É uma demonstração de independência da casa.

CM: Você fez parte da mesa várias vezes, foi vice-presidente, secretário. O que você pode colocar com relação à valorização do servidor da Câmara?

Naquela minha fase na Mesa Diretora se deu uma proposta de valorização do servidor público depois de não sei quantos anos. Fizemos o primeiro concurso público na Câmara. E fizemos até o processo de aposentadoria incentivada para que haja uma renovação de servidores, sem deixar de valorizar aqueles que se aposentaram. Acho que eles se aposentaram com todos os seus direitos. É um exemplo da nossa atuação, que foi, desde lá atrás, um estudo que se iniciou através de um trabalho nosso, sendo acatado por toda a Mesa e por quem liderava a Casa, o presidente Jorge Felippe, o que creio ser uma demonstração do quanto damos valor ao servidor público. A Mesa Diretora e o presidente sempre vão buscar o melhor em todas as pautas que entram na Casa em defesa do servidor.

CM: Eu gostaria de uma palavra sua sobre o Jorge Felippe, que presidiu a Casa por 12 anos e esteve sempre nos seus mandatos, uma pessoa muito próxima, da mesma legenda que você.

Posso falar que sempre aprendi muito com ele. Um vereador com muita experiência, que sempre buscou dar muito equilíbrio à Casa e, em momentos muito difíceis, soube lidar com muita serenidade. Acho que foi um grande aprendizado observar a maneira como ele lida com todo mundo e mantém o equilíbrio na hora de tomar as decisões na Casa. O Legislativo é muito complicado de se conduzir pelo processo político.

CM: A outra percepção é que esta legislatura teve um upgrade. Deputados federais, ex-senadores, vice-prefeitos... Você tem uma Câmara formada por estrelas da política nacional, inclusive. Este é um momento importante para o legislativo.

Em minha primeira entrevista, na rádio CBN, falei sobre esses dois significados na importância da política brasileira. Em primeiro lugar, há partidos que têm quantidades parecidas de vereadores eleitos. O DEM, PRB e o PSOL. São três partidos com o mesmo número de vereadores. Em segundo, eu volto a citar aqui: grandes figuras que vêm de grandes quadros, sejam antigos da política brasileira, como o vereador César Maia, o vereador Chico Alencar, o vereador Lindbergh e a vereadora Rosa Fernandes, que são muito atuantes. Também costumo citar os novos quadros que surgiram. O próprio Pedro Duarte, do Novo, é um garoto muito preparado. Tem muitos bons quadros, o que, acho, vai levar a muito movimento no trabalho político da Casa.

CM: Como você acha que será esta gestão de Eduardo Paes, já que haverá nem Olimpíada e nem Copa do Mundo para oxigenar financeiramente a Prefeitura? E Eduardo Pawa está assumindo um legado muito difícil, de pandemia, além da questão financeira nacional.

Sem olhar para o retrovisor, pois precisamos olhar para frente, a última gestão perdeu seu comando e não tinha gestão, não tinha política pública. Ele terá que colocar as contas em dia, reorganizar a Prefeitura. Há um aspecto que você colocou aqui: a essência da Prefeitura está nos servidores motivados. Eles estavam muito desmotivados. Nos quadros técnicos, muitos pensavam em se aposentar, e agora muitos estão voltando. Um exemplo disso: Márcia Queiroz. No urbanismo, ela sempre foi muito elogiada, mas viu a gestão do antigo prefeito e se aposentou. E agora, ela voltou a trabalhar na Prefeitura pelo o que é a forma do Eduardo trabalhar, um cara trabalhador e que gosta, realmente, de fazer uma gestão técnica e com muita ação.

CM: Como você vê a ideia de armar a Guarda Municipal ou parte dela, uma pauta que transitou pela Câmara?

É preciso muito cuidado, mas, de fato, acredito que parte dela seria necessário. Inclusive sou a favor que essa parte se inicie no processo de fazer a guarda armada em relação ao turismo, fazer um teste de proteção ao turista.

CM: Começamos a entrevista falando de Barra e vamos terminar falando de Barra, abordando o seu dia a dia na Barra. Como você está arranjando tempo, porque o cargo exige que o parlamentar perca um pouco a gerência sobre sua própria agenda, porque você passa a ser o líder do poder. Como você está gerenciando seu tempo na Barra?

Por enquanto está muito difícil (risos). Foi uma dedicação do trabalho pela cidade e pela região muito intensa, então a gente conhece os gargalos e os pontos de problema da cidade. No fim do ano, eu já tinha todos os ofícios preparados. Conto com uma assessoria muito forte, que já vinha dialogando com os órgãos municipais. Se o Eduardo quiser fazer um ranking com os ofícios enviados, acho que o nosso gabinete será o que mais enviou solicitações de poda, dragagem, serviços gerais e, inclusive, pelo planejamento da cidade. Na Barra tem o trânsito, que é uma preocupação.

CM: Você colocou uma joia da coroa sua como subprefeito da Barra.

Eu gostaria até de falar que não fui eu. O Raphael sempre foi uma das principais pessoas a meu lado. Na verdade, eu o queria na Câmara comigo. Porque ele era meu chefe de gabinete na primeira secretaria. Ele é servidor estadual concursado, preparado, tem MBA, e estava me ajudando muito na gestão e no trabalho político também. Ele é presidente da juventude do partido. O Eduardo, durante a campanha, adorou o Raphael e o convidou, para a minha surpresa. Eu achei ruim? Claro que não, mas neste novo desafio eu o queria comigo. No entanto, está sendo muito bom para a região, porque o Raphael, não só pelo preparo técnico. Ele se iniciou politicamente comigo, aos 18 anos de idade, e foi administrador regional do Recreio. Então, ele conhece muito bem a região.

CM: E a questão da Lamsa? Isso é um fato que toca a Barra, devido ao pedágio.

Eu separo de duas formas. A primeira é que está sendo maravilhoso não ter pedágio; a outra é que temos pensar na cidade, fazer uma equação financeira para chegar a uma forma, através do acordo judicial, de que a cidade não se prejudique financeiramente neste momento difícil. O que a gente acompanhou nas discussões é que o aporte financeiro para não ter pedágio é muito pesado para a cidade. Acho que tem que ter um equilíbrio nisso. E também, logicamente, há necessidade por decisão judicial . Se a prefeitura não tiver saúde financeira para cobrir, o que eu acredito que não tenha hoje, que se coloque um pedágio com um valor justo para todos.

CM: Nem oito e nem 80.

Acho que é possível.

CM: Uma pergunta pessoal, que é sobre a posse. O orgulho da família, em especial ao falecido Claudio, que é ver o filho no mais alto cargo do Legislativo Municipal. Você sentiu a presença dele naquele momento?

Sem dúvidas, foi muito difícil para mim falar naquele momento. Claro que todo pai é especial para gente, pai e mãe... E a relação do meu pai comigo era uma relação acima do normal, principalmente pela política. Meu pai nunca foi político, nunca foi deputado, nunca foi sequer candidato, mas sempre militou na política. Entrei na política em função da militância dele, então, para mim, foi muito significante.

CM: Essa posse foi uma homenagem a ele, não é?

Sem dúvida alguma. Ele era militante do PDT, eu o acompanhei segurando bandeira na época de eleição. Ele perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Falei que queria ser político, aos 11 anos de idade. Acabou que isso aconteceu e acho que ele está bem feliz quanto a isso.

CM: Uma mensagem final para o nosso leitor.

Quero agradecer sempre a confiança e o carinho. No âmbito do nosso mandato, nada muda: muita dedicação e trabalho pela cidade. No âmbito da presidência, muita independência no parlamento e vamos buscar fazer uma agenda em que a gente possa reconstruir a cidade. A cara nova já foi dada pelas três comissões de representação que nós criamos e já estão funcionando, em combate à covid, pelo retorno das aulas e a outra sobre o desenvolvimento econômico e tributário na recuperação das finanças da cidade. Vamos focar muito nisso, que reunirá todas as características para reconstruir a cidade.