A chance de Molon voltar a ficar grande está sendo desperdiçada

A chance de Molon voltar a ficar grande está sendo desperdiçada

Por Cláudio Magnavita *

É possível compreender a intransigência do deputado Alessandro Molon na questão da disputa pelo Senado? Até os mais experientes militantes da esquerda enfrentam dificuldades de compreender tamanho apego a uma candidatura que é rejeitada pelo Partido dos Trabalhadores, principal apoiador do candidato ao Governo do PSB, Marcelo Freixo. Aliás, foi Molon o arquiteto do convite para ingressar na sua legenda.

O maior prejudicado nessa quebra de braço é o próprio Alessandro Molon, implodindo qualquer chance de ser a escolha para uma campanha majoritária no futuro, principalmente a de prefeito do Rio e gera o desgaste desnecessário para a candidatura de Marcelo Freixo, sob pressão do próprio Lula, principal eleitor da esquerda em 2022.
Esta eleição tem sido o pleito dos sacrifícios. Na presidência , Luiz Inácio engoliu Geraldo Alckmin, exatamente o ex-governador paulista que como adversário desferiu os mais duros golpes sobre a sua idoneidade. Aliás, o próprio PSB fez um malabarismo para atrair Alckmin e enfrentar a militância para colocar este neófito da legenda na chapa do Lula, que precisa deste verniz de direita.

Apesar do exemplo da própria legenda, que no Rio uniu Freixo ao ex-prefeito César Maia, uma alquimia improvável há alguns anos, o presidente da executiva provisória, Alessandro Molon nega dar a sua cota de sacrifício ao unificar a chapa e aceitar o deputado André Ceciliano como o candidato único ao Senado junto com Marcelo. Cria uma birra exatamente como político da esquerda que transita em todas as correntes e é capaz de aumentar a pluralidade de uma candidatura de oposição a Cláudio Castro. O protagonismo político que Ceciliano assumiu no impeachment no Rio, nas agendas econômicas para salvar o estado lhe dão uma densidade política no qual o Senado é um desdobramento natural. É mais do que legítima a sua ida ao Senado, ainda mais com o aval de Lula.

Na prática, a intransigência de Molon, desafiando a própria cúpula partidária, fortalece a candidatura de Rodrigo Neves, que torce pela adesão do PT à sua candidatura. Cenário que pode levar Freixo a renunciar a candidatura ao governo e concorrer à reeleição de deputado federal.

Todas as análises conduzem a um desgaste irreversível de Alessandro para uma futura candidatura a Prefeito ou até mesmo ao Senado em 2026, quando haverá duas vagas.  É lamentável que um parlamentar experiente e com tanto serviço prestado à defesa democrática não compreenda que a cota de sacrifício que a conjuntura atual lhe impõe é muito pequena, diante do futuro que desmorona por conta de uma corda que foi esticada muito além do bom senso.

 

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã