Editorial: Um linchamento injusto

A primeira grande fakenews desta eleição 

Por Cláudio Magnavita

É estarrecedor a velocidade com a qual uma mentira se propaga quando atende os objetivos da mídia de oposição e da desconstrução do atual presidente. Uma das regras de Joseph Goebbels, apoiado pela Gestapo, era repetir uma mentira com intensidade até ela se transformar em verdade. É exatamente isso que está ocorrendo no caso da notícia de Guilherme Amado, no site Metrópoles, sobre o apoio de empresários a um golpe de estado no caso da vitória de Lula. Os desdobramentos, que inclui até um ministro do STF, ocorrem sobre uma tese fantasiosa e não sobre um fato. É claro que todos irão condenar a hipótese de “empresários defendendo um golpe”. Se isso tivesse ocorrido seria suicida, como afirmou o ministro Dias Toffoli.  Só que este suicídio coletivo não ocorreu, porque não houve um grupo formado por renomados empresários para articular o rompimento institucional.

Toda esta pirâmide invertida de indignação tem como base frases e rompantes pinçados aleatoriamente em conversas de um grupo de bate papo informal, sem estar atrelado a nenhuma instituição do rito golpista. Seria a mesma coisa de pinçar frase de uma roda de bar de jornalistas e levar a sério impropérios que são ditos.  Já teve gente da esquerda dizendo nas redes sociais que preferia Jair Bolsonaro morto, mas isso não os transformam em assassinos. A não ser que esteja ligado ao estaqueador Adélio ou criando álibi para ele no Congresso.

O pavio deste barril de pólvora começou a ser aceso com a correspondência enviada pela coluna aos participantes do grupo: “meu nome é Edoardo Ghirotto, sou repórter da coluna do Guilherme Amado, no portal Metrópoles. A coluna acompanhou nos últimos meses as mensagens trocadas no grupo de WhatsApp Empresários & Política. Vamos citar mensagens enviadas pelo senhor em uma reportagem e gostaríamos de lhe oferecer a oportunidade de se posicionar a respeito delas“.

A transcrição é literal. Nela o repórter afirma de forma soberba “gostaríamos de lhe oferecer a oportunidade de se posicionar a respeito delas…” e continua:

“Numa delas, o senhor defendeu um golpe de Estado como uma alternativa melhor do que a volta do PT ao poder.”   É esse o ponto central do ápice da pirâmide invertida. A partir de uma declaração de que “preferia um golpe à posse de Lula “, através de uma declaração chula e pinçada no meio de uma narrativa que começa essa fake news que virou tsunami e que levou o midiático senador Randolfe Rodrigues a surfar na onda criada pelo fato e até pedir a prisão dos participantes do grupo.

Se o repórter acompanhou e participava do grupo, por que colocou as seguintes questões na tentativa de construir uma narrativa barril de pólvora? Edoardo Ghirotto , que fica em São Paulo, pergunta por escrito aos participantes:

“Por que o senhor defende isso? De que forma esse golpe ocorreria? O senhor conversou sobre o assunto com algum integrante do governo federal ou com o próprio presidente Jair Bolsonaro?” Não é preciso reler novamente para perceber  que nunca existiu nada de concreto sobre um golpe e ele tenta vincular isso ao próprio presidente da República. Na verdade, ele estica a corda em favor de uma opinião tentando transformar em fato.

Exaurido o tema do “golpe em curso”, ele passa a questionar uma ideia, por sinal esdrúxula e contraposta, no próprio grupo: “o senhor mencionou ainda que achava uma boa ideia pagar bônus aos funcionários da empresa que votassem de acordo com seus interesses. Pretende manter essa ideia?“

No final, ele questiona a distribuição de bandeirinhas do Brasil que um dos empresários promete fazer no Dia da Independência.

É exatamente este o pivô desta tsunami que tomou conta do noticiário e resultou no linchamento público de empresários que foram listados e tiveram sua minibiografia publicado com direito a foto.

A tese de ter “empresários golpistas “ é boa demais para quem quer ver o circo de Bolsonaro pegar fogo, para que receba a devida dose de verdade. Até boicote às marcas foram propostas.

Existe também um áudio de uma conversa entre o administrador do grupo de bate papo, Daniel Fux com o jornalista Guilherme Amado no qual ele tenta passar a pequena dimensão deste espaço no WhatsApp e a informalidade das conversas, afirmando que tendo a coluna acompanhada as conversas saberia que nunca houve espírito confabulatório contra a democracia. Na conversa, ela fala da sua relação com a mídia e se identifica como filho do conceituado jornalista Moyses Fux, um dos mais democráticos nomes de grandes redações.

Pavio aceso e o super dimensionado de um simples espaço opinativo explodiu o barril da insanidade, colocando nomes relevantes da vida empresarial em um injusto pelourinho público. Um linchamento sem lógica é utilizado de forma torpe por algumas publicações na busca de vender silêncio.

Lamentável ver no coro do “nonsense” um jornalista do quilate de Ascânio Seleme defendendo a crucificação de empresários, entre eles, um que conhece muito bem e é parceiro do seu veículo. A própria diretoria do Jornal O GLOBO sairia na defesa e como avalista de alguns desses nomes pela histórica relação.

Anotem: é a primeira grande fake news desta eleição e outras virão. Esta equação que une a manipulação da verdade, uma mídia de oposição sedenta para derrubar Bolsonaro e um TSE que transforma um discurso de posse em declaração de guerra, como afirmou o corregedor do TRE do DF, será um terreno propício a outros linchamentos midiáticos.

*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã