Por Gabriel Moses e Pedro Sobreiro
Apesar dos cabelos brancos, e talvez uma fisionomia de alguém “mais experiente”, o técnico Tiago Nunes, de apenas 39 anos, representa claramente o que o futebol brasileiro precisa para se manter em alto nível. É a tão falada renovação por parte dos técnicos brasileiros, e com certeza, Nunes encabeça essa lista.
Em praticamente um ano e meio, o treinador do Athletico-PR conquistou três títulos inéditos para o clube, sendo dois torneios internacionais. No ano passado, o técnico deu o campeonato paranaense e a Sul-Americana para a equipe, a segunda competição mais importante do continente. Já nesta temporada, os títulos da Levain Cup (antiga copa Suruga) e da Copa do Brasil colocam o Furacão definitivamente no alto escalão dos times brasileiros.
Mas quem é Tiago Nunes?
Natural de Santa Maria, o gaúcho Tiago Nunes começou sua carreira em meados dos anos 2000. Nesse período, passou por diversos clubes de baixa expressão no Rio Grande do Sul, além de treinar a equipe manauara do Nacional. Depois, o treinador ingressou para as categorias de base do Grêmio, até então sendo o seu trabalho de maior expressão.
Sendo pouco aproveitado, Nunes passou para a base do Juventude e da Ferroviária, e posteriormente trabalhou com o grupo profissional do São Paulo-RS e Veranópolis. Em 2017, o Athletico-PR contratou o treinador para cuidar da equipe sub-23 do clube. Já em 2018, após a demissão de Fernando Diniz, que na ocasião havia deixado o time na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, Tiago Nunes teve sua primeira grande oportunidade no cenário nacional esportivo. E aproveitou a chance muito bem.
Com uma filosofia de jogo altamente competitivo, com linhas altas de marcação e muita troca de passes, o Athletico de Tiago Nunes largou a zona de rebaixamento e terminou o brasileirão na 7ª colocação.
Sonhos e realidades
Com uma identidade formatada, o Furacão tem conseguido feitos antes inimagináveis. Vencer um título internacional encabeça a lista. Depois, o embate equilibrado contra equipes consagradas no cenário futebolístico da América do Sul e até mesmo do mundo, como foi o caso da épica vitória do clube sobre o Boca Juniors por 3 a 0 na fase de grupos deste ano.
São campanhas e jogos feitos com muita habilidade, equilíbrio e inovação.
Tiago Nunes consegue montar e, principalmente manter, uma equipe totalmente competitiva, que mescla um poderio ofensivo veloz com uma sólida organização defensiva. E mais: o treinador utiliza-se de muitos jogadores da base do clube, o que valoriza ainda mais o Athletico no mercado.
Provavelmente o nome mais bem sucedido da chamada “nova geração de técnicos brasileiros”, Tiago Nunes deu mais um passo a favor da volta do futebol ofensivo ao Brasil.
Mais do que ficar no papel, o trabalho até aqui de Tiago Nunes espanta qualquer sombra ou receio de dirigentes e da imprensa sobre a questão da “renovação x mais do mesmo”.
Foto: Twitter/ Athletico-PR
Sem sombra de dúvidas que o técnico do Athletico é uma grande referência para muitos treinadores, inclusive aos já consagrados. Tiago Nunes é o melhor dos dois mundos: a mistura perfeita entre simplicidade e diferencial de trabalho.
É mais um capítulo importante na história do Athletico-PR, clube que briga anualmente para entrar no grupo dos gigantes brasileiros, e que tenta mostrar que modernidade e tradição podem andar juntas. O futebol no século XXI deixa sua mensagem: Apostar é preciso.
O projeto campeão do Athletico-PR
Essa fase vitoriosa do Athletico-PR no cenário nacional e internacional não é sorte, mas fruto de um planejamento trabalhado de forma competente pela diretoria do Furacão.
O clube estabeleceu a meta de ser campeão da Copa do Mundo de Clubes da Fifa até 2024. Quando isso foi anunciado, alguns torcedores de outros clubes deram risada, muitos deles baseados na descrença e na tradição nacional de suas equipes. Porém, o futebol moderno não dá mais espaço para o amadorismo. A diretoria do antigo Atlético Paranaense entendeu isso e colocou a equipe nos trilhos após o retorno à Série A, lá em 2012.
Desde então, o Furacão investiu na Arena da Baixada - único estádio da América Latina com teto retrátil e um dos mais modernos do país, melhorou o CT do Caju, de onde saem algumas revelações importantes para o elenco, como o goleiro Santos, o volante Bruno Guimarães e o lateral Renan Lodi - a venda mais cara da história do clube - e passou até mesmo pela polêmica mudança no nome e na identidade visual do agora Athletico-PR.
São atitudes simples, mas profissionais, que têm como objetivo a internacionalização da marca.
Se eles serão campeões do mundo até 2024, só o tempo dirá, mas já é possível apontar que estão seguindo o caminho certo.
O clube paranaense já garantiu sua sétima participação na Libertadores em 2020, competição da qual foi vice-campeã em 2005. Quanto mais um elenco disputa o torneio, maior é a chance dele criar a chamada “casca”, de ganhar experiência e entender melhor as exigências de cada jogo. E baseado no que os elencos do Athletico vêm apresentando nos últimos anos, não é nenhuma loucura considerá-los favoritos a levantar a taça mais cobiçada das Américas e até brigar pelo Mundial nos próximos anos.
No momento, o céu é o limite na Baixada.
