A galera torce pela volta do Maraca raiz

Por Gabriel Moses

Para os torcedores e saudosistas de plantão, uma notícia boa. Na última terça-feira (24), deputados estaduais do Rio de Janeiro votaram o Projeto de Lei (PL) 4.260/18 que pretende recriar a “geral”, área de ingressos de baixo custo, muito popular e de sucesso para as torcidas entre os anos 50 e meados dos anos 2000.

Fatores como protestos à elitização no estádio e à busca desenfrrada de ingressos em jogos do Flamengo contribuíram para a criação da PL, que é de autoria dos parlamentares André Ceciliano e Zeidan Lula, ambos do PT.

A medida é vista como popular, mas com execução longa e complexa. Em linhas diretas, a aprovação do projeto só diminui a burocracia de documentos caso ainda seja levada adiante. Cabe também a concessão de Flamengo e Fluminense, administradores provisórios do Maracanã.

Fato é que o processo terá que ser regido com paciência e tempo. Primeiramente, seria necessário um estudo específico sobre a área do estádio, além da solidificação de um projeto de construção, e a aprovação do mesmo por órgãos competentes. Há obviamente a necessidade de um orçamento para se poder fazer a abertura de licitação da obra. Desse modo, a reformulação das arquibancadas fecharia o Maraca, ou pelo menos parte dele, por um período ainda indefinido.

A estimativa é que aproximadamente oito mil lugares seriam criados com essa reforma.

Apesar da grande vontade de muitos pela volta da geral, só será possível vislumbrar os setores Norte e Sul sem cadeiras depois de 2021, no mínimo. O governo terá até o próximo dia 10 para se manifestar sobre o tema.

Chamado por muitos como o “espaço mais democrático do Brasil”, a geral do Maraca se destacava pela energia pulsante que a torcida, ali concentrada, liberava. Não era para os fracos.

Sempre um sucesso de público, o templo do futebol brasileiro e mundial chegou a receber aproximadamente 200 mil pessoas, em jogos de seleções (Brasil 1 x 2 Uruguai em 1950), e 195 mil em partida por clubes (Fla x Flu em 1963). E esses números tão inflacionados só foram possíveis justamente pela presença dessa “mística área” repleta de bandeirões, apitos, sorrisos, carisma e muita, muita festa, com figuras folclóricas.

Com o Rio como sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007, o Estádio Jornalista Mário Filho se despediria de sua então amada geral e dos seus carnavais fora de hora. Durante as obras, em 2005, a querida geral, que comportava 30 mil lugares, saiu de cena para a instalação de 18 mil cadeiras azuis. O Maraca, a partir daí, ficou até mais colorido, mas muito mais sem graça. E, com o passar do tempo, acabou perdendo a cor de sua torcida. Ficou até monótono.

A medida fez parte de um conjunto de leis criadas pela FIFA, que pretende modernizar os estádios do futebol e evitar que o torcedor assista a uma partida em pé.

Atualmente, o Maracanã tem capacidade máxima para aproximadamente 78 mil pessoas. Não sendo mais a “Maior do Mundo”, a casa do futebol carioca ainda mantém sua tradição e gigantismo, mas deixou para trás o seu maior diferencial em relação aos demais complexos esportivos futebolísticos: o povão.

Agora, em tempos de modernidade, o jeito é torcer para a volta da época raiz.