Estado do Rio de Janeiro – fusão já!

Por Cleiton Rodrigues*

Ué, mas em 1975 não foi feita a fusão do antigo estado do Rio com a Guanabara? No papel sim, na prática, nunca aconteceu. O orçamento, anteriormente separado – tendo o interior e a Baixada Fluminense um montante financeiro próprio para seus investimentos –, foi incorporado ao orçamento do estado da Guanabara com o objetivo de ser mais robusto e a divisão, mais igualitária. Na teoria seria o correto, mas ao contrário, os governadores pós-fusão, por uma estratégia eleitoral, concentraram seus esforços financeiros e políticos na capital. Para que investir em Porciúncula, Natividade, Laje do Muriaé, Japeri, Rio das Flores e tantos outros, se os 91 municípios que compõem a Baixada e o interior representam 60% do eleitorado, sendo mais produtivo eleitoralmente concentrar na capital que, sozinha, corresponde a 40% dos eleitores, tendo ainda cobertura da grande mídia e os pontos turísticos mais famosos do Brasil?

Essa lógica perversa levou o Estado do Rio a uma profunda crise geopolítica, e transformou nosso interior, que era pujante, em lugar árido. É bem verdade que não se pode generalizar; já houve governantes que iniciaram o processo de valorização do Interior e da Baixada Fluminense. Esse processo necessita de continuidade, pois, às vezes, reconstruir uma casa é mais demorado e trabalhoso do que levantar uma nova. E o erro foi esse – quiseram construir um estado novo, cheio de novidades, UPP, invasões, quando a questão é óbvia: o crescimento desordenado das favelas se dá por causa de um êxodo incessante de pessoas. São famílias inteiras que não conseguem se sustentar mais, seja na lavoura ou em outra atividade no interior do estado, e, desesperadamente, acreditam que a vida na capital será próspera. Ao chegarem, se deparam com uma realidade diferente, dura, eu diria um outro mundo, onde as regras e leis são diferentes, onde a enxada e a foice, que anteriormente lhe traziam o sustento, de nada lhes servem mais.

Por vezes, chamaram-me de inconformado com a mudança de conceitos e avanços tecnológicos. Dezenas de vezes disseram-me acreditar em utopias, mas, ao longo de 37 anos fazendo política, a cada dia me convenço de que o estado do Rio de Janeiro, sendo talvez o mais importante do País, por ser o porta-voz do Brasil para o mundo, precisa urgentemente mudar o rumo da História. Ou, melhor dizendo, retornar ao rumo correto da História. É necessário alguém que tenha coragem de não pensar apenas na próxima eleição e sim na próxima geração; é preciso definitivamente não querer inventar a roda e olhar para o mundo, para o próprio País.

Só há um estado vencedor quando há um interior forte, só seremos vencedores quando a Baixada Fluminense for olhada como parte fundamental para o desenvolvimento do estado. Tenho absoluta certeza de que um projeto sério, bem elaborado, terá o apoio do presidente da República, de senadores e deputados federais e estaduais.

Chegou a hora de copiar a vida. Quando estamos em crise existencial, olhamos para dentro, para nosso próprio interior e fazemos análises de erros, autocríticas, pois lá estão as respostas para nossa retomada de rumo. Pois bem, que o governador em exercício faça essa analise e coloque em prática. Valorizar aquilo que deu certo em governos anteriores não é demérito algum, pelo contrário, é demonstração de altivez e reconhecimento. Usar o poder para transformar a vida das pessoas. Do contrário, nada vale a pena, porque certamente a alma será pequena.

*foi recentemente secretário estadual de Governo, e se considera um inconformado por ver não apenas uma cidade partida, mas um estado esfacelado