ESG - Environmental, Social and Governance: modismo, tendência ou realidade?

Francisco Guarisa*

Faço essa pergunta inicial porque não percebo um alinhamento na forma com o tema é tratado, nos mais variados canais de comunicação online e offline. Para tentar minimizar essa dúvida, resolvi realizar uma pesquisa informal na internet. Recorri ao Google, que representa mais de 90% do tráfego orgânico no universo online, restringi a “amostra” em 15 páginas do buscador e pesquisei quantas empresas e quais segmentos escreveram sobre o tema nos últimos dois anos.

A pesquisa foi feita através de duas buscas: “ESG” e “o que é ESG”. O resultado foi a identificação de 108 sites diferentes falando sobre o tema, em um universo de 255 citações para cada busca (15 páginas de pesquisa multiplicadas por 17 citações por página). Nas duas buscas, o número de sites destacados foi basicamente o mesmo. Todavia, quando resolvi pesquisar mais a fundo para identificar o quantitativo por segmento de atuação e o que estavam falando, aí surgiram as dúvidas que motivaram meu questionamento.

Como já era de se esperar, uma parcela significativa de sites (30%) foi de veículos de comunicação, portais de conteúdos e/ou blogs explicando o tema. Porém, para minha surpresa, quase o mesmo percentual (29%) foi de sites ligados à área financeira, que explicavam o assunto com um viés sobre a oportunidade de investimento. Obviamente que é uma oportunidade investirmos em empresas que estão alinhadas com boas práticas socioambientais e governança corporativa. Contudo, será essa a real importância que devemos dar ao tema neste momento, como uma grande oportunidade de negócio? Ou será que devemos olhá-lo como uma quebra de paradigma para que empresas e pessoas estabeleçam uma nova forma de relação, mais humana e sustentável?

Outro ponto importante, constatado neste simples levantamento, é que nessa busca só apareceram 10 empresas ligadas à indústria e comércio, que explicitaram em seus sites sobre o tema e como estão trabalhando internamente. Isso significa menos de 10% desse pequeno universo amostral. Certamente, essa é uma amostragem bem restrita, que pode estar “contaminada” pelas estratégias de melhoria de posicionamento, através da otimização de busca de palavras das empresas. Mas, a baixa representatividade percebida me faz refletir se o segmento já entendeu a dimensão de se implementar com urgência tais práticas. Vale ressaltar que, de acordo com a última Pesquisa Industrial Anual feita em 2019 pelo IBGE, o país apresenta mais de 330 mil indústrias instaladas (só indústrias). Fica aqui a dúvida de quantas dessas empresas já estão efetivamente trabalhando em prol dessas mudanças.

O mesmo percentual de 10% foi encontrado em empresas do segmento de tecnologia e organizações do Terceiro Setor. Nos sites de tecnologia, a importância do tema ficou muito focada na necessidade de investimento em produtos e serviços do segmento. Já no Terceiro Setor, destacou-se uma abordagem mais reflexiva e propositiva, evidenciando a preocupação efetiva dessas organizações com o tema. O percentual restante da amostra ficou pulverizado entre consultorias, capacitação, educação, energia, governo, associações e entidades de classe, de forma meramente informativa.

Neste contexto, me permito inferir que a evidência do tema ainda não condiz com o discurso na prática. A palavra da moda é “sustentabilidade”, exaustivamente destacada em todos os textos avaliados. Aliás, não me eximo do modismo, pois já citei algumas vezes em outros artigos. Apesar disso, independentemente de tamanho e/ou segmento, reforço a importância de as organizações incorporarem essas práticas de ESG com total urgência. Diversidade, inclusão, equidade, mudanças climáticas, governança, ética e qualidade de vida dos colaboradores, entre outros itens que tenho destacado em diversas oportunidades, não podem mais ficar meramente em discursos, como modismos ou prováveis tendências. Esta é uma realidade, dentro de um processo irreversível de sobrevivência pessoal e empresarial.

ESG passa a ser um compromisso, pois dirá muito o nível de comprometimento que uma empresa terá com todas as partes interessadas ao negócio e, até mesmo, com uma agenda global. A incorporação do ESG à estratégia reforça que, além de rentabilidade e lucro, propósito passa a ser um item mandatório.
Precisamos dar uma resposta a um mundo combalido. Infelizmente, isso só o tempo dirá, se ainda der tempo.

 

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão