Política com P maiúsculo

Poder Legislativo fluminense mostra sua força em votação simbólica do processo de impeachment de Witzel

Por: Claudio Magnavita*

O dia 10 de junho de 2020 será lembrado na história da política fluminense como o dia que a Alerj renasceu. Dos 70 votos possíveis, 69 foram a favor de uma decisão e uma única abstenção. O conceito de unanimidade pode ser aplicado neste placar. Um exemplo de unidade que deve ser seguido por outras casas legislativas de todo o país e no próprio Congresso Nacional.

Este renascimento do Poder Legislativo fluminense, com a valorização dos mandatos individuais, acaba com o conceito de alto e baixo clero, e merece ser analisado com profundidade. Parlamentares que se mantiveram imunes a sedução do Executivo, que abriram mão de ofertas mercantilistas em troca dos seus votos contra um processo de impeachment, que em outras épocas, teria sido explodido em mesas de negociações imorais.

Um verdadeiro líder é aquele que respeita as suas bases, que consegue conviver com as diversidades e principalmente compartilha democraticamente as suas decisões, até mesmo aquelas que possa tomar de forma monocrática. O que o presidente André Ceciliano fez ao dividir com seus colegas a aceitação de uma dos pedido de impedimento do governador Wilson Witzel transferiu o protagonismo para a Casa, que saiu fortalecida.

Em um mundo político extremamente dividido, assistir a consolidação de um dos poderes, o Legislativo, historicamente o mais fragmentado na comparação com o espirito de corpo do Judiciário e do poder imperial do Executivo, é uma luz no fim do túnel.

Este equilíbrio cabe agora também ao Judiciário, para que não se reedite aqui o que ocorreu no Amazonas, com o outro Wilson do PSC, que congelou judicialmente decisão da Assembleia Legislativa. Esta poderá ser uma das vias adotadas pela defesa do governador.

Diferentemente de lá, as fundamentações no Rio são bem mais parrudas e envolvem o CPF dos investigados. Com o processo aberto, caberá o protagonismo ao Judiciário e ao presidente do TJ, ao presidir as sessões e garantir a ampla defesa. O réu será um ex-juiz que não deve ter receio de enfrentar um julgamento.

As colunas do Palácio Tiradentes, que abrigou por décadas a Câmara Federal, e que de sua tribuna ecoaram as vozes dos maiores nomes do parlamento brasileiro, volta a abrigar parlamentares que trazem para a política brasileira , um elemento que estava cada vez raro: o orgulho de fazer política com “P” maiúsculo.

*Diretor de Redação do Correio da Manhã