A inaceitável traição de Maia

A inaceitável traição de Maia

Por Cláudio Magnavita*

O que está faltando ao estado do Rio de Janeiro é a capacidade de ficar indignado. Não podemos continuar aceitando que políticos eleitos pelo povo coloquem seus interesses pessoais acima dos interesses do nosso estado. O Rio não é uma laranja de beira de estrada que, depois de descascada e chupada, seja jogada fora como um bagaço sem serventia.

A decisão do deputado federal Rodrigo Ybarra Maia beira a falta de decoro. Como pode um parlamentar, eleito pelo voto do povo do Rio pedir licença do mandato e ir trabalhar com o nosso concorrente principal? O mais grave, trabalhar na captação de investimentos e parcerias com grandes empresas, em detrimento dos projetos fluminenses?

Será que ele desconhece que os estados concorrem entre si? Que existe uma guerra fiscal? Que disputamos até o destino do gás? Nem sempre o que é bom para São Paulo é bom para o Rio e vice-versa.

O governador João Doria montou um secretariado de talento, recrutando nomes de diversos estados, ex-ministros, inclusive Sergio Sá Leitão, da Cultura, que é do Rio e virou secretário paulista. Aplausos ao talento! Mas nenhum deles estava no exercício de mandato eletivo, nem renegou as suas origens para cuidar dos interesses paulistas.

A coluna Magnavita do Correio da Manhã vem alertando há várias semanas sobre o desconforto de Rodrigo Maia no exercício do fim do mandato, depois que foi obrigado a deixar a presidência da Câmara. Não se adaptou à planície e assiste a seu ativo eleitoral evaporar. Sem partido, expulso do DEM, não conseguiu ser líder da oposição por não ter legenda.

Se agora quer servir a São Paulo, é simples. Tenha um pouco de vergonha e renuncie a seu mandato fluminense. Que gere negócios para o nosso concorrente, que defenda os interesses do governador que mora no Bandeirantes, mas sem o mandato outorgado pelo povo fluminense.

O Rio é formado por fluminenses nascidos nos quatro cantos do país e no exterior. Muitas vezes são exatamente esses, que adotaram o Rio, que são mais bairristas. Ser carioca ou fluminense é um caso de amor, e devemos nos indignar quando somos traídos e vilipendiados pela falta de compromisso com o nosso estado. Nada contra os Maia. César foi um dos melhores prefeitos que tivemos e Daniela comanda bem a Riotur. Se Rodrigo quer servir aos paulistas, que primeiro libere o mandato que ocupa. Renuncie, e não apenas se licencie. Que se eleja por São Paulo, mas não obrigue o Rio a conviver com um deputado traidor.

 

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã