Um Governo que perdeu a capacidade de se defender

Um Governo que perdeu a capacidade de se defender 

Por Cláudio Magnavita* 

O Brasil, hoje, tem a sensação de que o presidente Jair Bolsonaro vive um paradoxo. Conta com o apoio popular e, na intimidade do poder, está sozinho. Uma multidão o abraça, porém, na estrutura do núcleo duro ele fica cercado por puxa-sacos, incapazes de buscar uma solução para situações mais complexas. Chamar o ex-presidente Michel

Temer, que levou o seu marqueteiro de estimação para fazer uma nota bem-feita, palatável, que demonstra arrependimento por exageros da adrenalina de palanque e, ao mesmo tempo, não perder a sua hombridade, é uma demonstração de que está desprovido de talentos em sua área de comunicação social.

Um dos grandes problemas do governo é ter naufragado na comunicação social. A Secom não existe. Ela foi empastelada pelo jeito dandy do D. Juan do Ministério, o ministro das comunicações, Fábio Faria. Aliás o sobrenome é perfeito para o desastre da comunicação social: ele está sempre por fazer.

Foi um desastre a saída de Fábio Wajngarten da Secom da Presidência. Com ele foi levado todo o relacionamento com as televisões que faziam o contraponto aos ataques da mídia de oposição. O desmoronamento das pontes com aliados é visível.

Temer, que foi intervir na crise, é, aliás, o mentor de Alexandre de Moraes, de quem partiu a indicação para o STF. Foi Temer que fez a ponte e até promoveu uma conversa protocolar entre o presidente e Moraes.

Na prática, Bolsonaro está à mercê da sua intuição midiática. Não há estratégia, não há filtro e nem inteligência na gestão da imagem presidencial e do Governo.

O pedido de desculpas, a alta da Bolsa, a oposição surpreendida pelo recuo presidencial criam a oportunidade para construir uma imagem institucional.

Algumas vozes lúcidas precisam voltar a ecoar nesse núcleo em insolvência, principalmente a do ministro Walter Braga Netto e do ministro Tarcisio Freitas, hoje, uns dos poucos que está fora do puxa-saquismo instalado no Planalto, que aplaude como foca cada bravata ou fala intempestiva presidencial.

É emergencial a retirada da desidratada Secom da estrutura negocial do ministro Fábio Faria. O presidente Bolsonaro não pode ficar isolado nesta batalha, e o governo, por dever de ofício, precisa cuidar com competência da sua imagem .

 

*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã